SP: estudo
aponta incidência maior de covid-19 entre professores
Docentes
seriam três vezes mais infectados que população geral
Publicado em
15/04/2021 - 20:47 Por Camila Boehm – Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Levantamento
realizado por pesquisadores da Rede Escola Pública e Universidade (Repu)
indicou que a incidência de covid-19 entre professores das escolas estaduais de
São Paulo no início deste ano foi maior do que a registrada na população em
geral.
Os resultados
mostraram que a incidência da doença entre os professores foi quase o triplo
(2,92 vezes) da registrada na população de 25 a 59 anos do estado de São Paulo,
que foi utilizada como base de comparação. Isso significa que os professores
foram 192% mais infectados que a população em geral, naquela faixa etária.
Foram
acompanhadas 554 escolas da rede estadual paulista e selecionadas para análise
299 que forneceram os dados sobre casos de covid-19 entre professores no
período de 7 de fevereiro a 6 de março – correspondente a quatro semanas
epidemiológicas. O levantamento constatou ainda que, no período analisado, o
crescimento da incidência de covid-19 entre os professores nas escolas
monitoradas foi de 138%, ante 81% do registrado na população comparada.
Os dados
constam em nota técnica elaborada pelos professores Ana Paula Corti e Leonardo
Crochik, do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Débora Cristina Goulart, da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Fernando Cássio e Salomão
Ximenes, ambos da Universidade Federal do ABC (UFABC).
A Repu foi
criada por um grupo de professores e pesquisadores de universidades públicas e
do Instituto Federal do estado de São Paulo (Unicamp, UFSCar, UFABC, USP,
Unifesp e IFSP) em fevereiro de 2016, motivados pelos acontecimentos envolvendo
a proposta de reorganização da rede escolar estadual em 2015 e pelo movimento
secundarista de ocupação das escolas.
De acordo com
a rede, houve pedido ao governo estadual dos dados oficiais de infecção
especificamente em professores e funcionários, inclusive via Lei de Acesso à
Informação, mas o pedido não foi respondido. Com isso, o grupo utilizou dados
coletados pelos docentes das subsedes da Apeoesp – sindicato dos professores da
rede estadual – com a finalidade de acompanhar o quadro da pandemia nas escolas
do estado após a retornos às atividades presenciais em 8 de fevereiro.
Diante dos
resultados, o grupo de pesquisadores concluiu, no documento, que “a retomada
das atividades escolares presenciais não pode ser considerada segura nas
escolas da rede estadual, ao contrário do que anuncia o governo de São Paulo”.
A nota aponta ainda que houve “problemas metodológicos e conclusões infundadas”
nas informações sobre a infecção nas escolas divulgadas pela Secretaria da
Educação do estado no boletim epidemiológico.
Governo
Na semana
passada, a secretaria divulgou boletim epidemiológico sobre as infecções por
covid-19 na comunidade escolar como um todo – professores, funcionários e
estudantes – entre 3 de janeiro e 6 de março (correspondente a nove semanas
epidemiológicas) e concluiu que a incidência do vírus nas escolas, incluindo
públicas e particulares, foi menor do que fora delas. Tanto a Repu como o
governo, calcularam o coeficiente de incidência da doença por 100 mil
habitantes.
“No período
acumulado, desde a primeira até a nona semana epidemiológica, a taxa de
incidência notificada pelas escolas públicas e privadas foi 33 vezes menor do
que a do estado. Tal fato está em consonância com as evidências científicas que
apontam que os números de contaminação relativos àqueles que frequentam o
ambiente escolar são sempre inferiores aos da transmissão comunitária”,
divulgou a secretaria no boletim. Os pesquisadores do Repu contestam não apenas
esse resultado mas outras declarações do boletim.
Uma das
críticas diz respeito à secretaria calcular a incidência de infectados com base
no número total de matrículas nas escolas públicas e privadas, sendo que a
população exposta – aquela que realmente frequentou as escolas – é
substancialmente menor, o que torna os coeficientes de incidência divulgados no
boletim “claramente subestimados”, conforme avalia a Repu.
Em relação ao
número 33 vezes menor de infecções na comunidade escolar, a nota técnica pontua
que “se isso fosse verdade, concluiríamos que é a ida à escola – e não o
isolamento doméstico – a forma mais segura de nos protegermos da covid-19”.
Além disso, a
decisão de calcular uma única taxa de incidência para estudantes, professores e
funcionários dilui os números das infecções dos servidores em meio ao de
crianças e adolescentes, sendo estes menos propensos a desenvolver formas
sintomáticas ou graves de covid-19, além de constituírem grande maioria (92,6%)
da população escolar.
A Secretaria
da Educação do estado (Secduc) informou, em nota, que investe na segurança dos
professores na volta às aulas e, por isso, já foram vacinados mais de 209.036
profissionais da área desde sábado (10). A pasta confirmou que o cálculo da
incidência de casos de covid-19 considera o número de casos positivos de
estudantes e profissionais, dentre eles os professores.
“Não foi
realizado um recorte específico para o público docente porque o monitoramento
realizado pela Seduc, por meio do Simed [Sistema de Informação e Monitoramento
da Educação para Covid-19], se dá sobre toda a comunidade escolar. O uso de
dados gerais foi o número confiável a ser utilizado diante das incertezas, como
metodologia possível”, informou a secretaria.
Segundo o
governo do estado, um novo boletim epidemiológico será divulgado em breve sobre
o acompanhamento dos casos da covid-19 em ambientes escolares. “Em cumprimento
às orientações do Plano SP, o retorno às aulas se dá de forma gradual e
reduzida, de acordo com a fase em que o estado se encontra, o que é definido
pelas áreas de saúde competentes”, acrescentou a nota.
0 Comentários