Iphan reconhece
festa junina no Pantanal como Bem Cultural do Brasil
Banho de
São João ocorre em junho em Corumbá e Ladário
Publicado em
20/05/2021 - 11:19 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de
Janeiro
O Conselho
Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), reconheceu, por unanimidade, o Banho de
São João de Corumbá e Ladário (MS) como Patrimônio Cultural do Brasil, sendo
inscrito no Livro de Registro das Celebrações. A festividade congrega o culto a
São João Batista e ao orixá Xangô e reúne a população com fé e alegria. Com o
reconhecimento, o Banho de São João passa a ser acautelado pelo Iphan, que
atuará na salvaguarda da festa, coordenando a execução de políticas públicas
para a reprodução e sustentabilidade da manifestação.
Conhecido como
festa junina no Pantanal, o Banho de São João tem um roteiro que inclui a
decoração de altares e andores, queima de fogueiras e realização de oferendas,
além de rezas e terços, giras em terreiros e levantamento de mastros. Na
passagem do dia 23 para 24 de junho, a população se dirige às margens do Rio
Paraguai para realizar, assistir e participar do ritual do banho. Em Corumbá, o
banho acontece no Porto Geral e, em Ladário, no Porto Ladário. Esse é o ápice
da celebração pública, para onde convergem as festas das casas e dos terreiros.
O diretor do
Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI) do Iphan, Tassos Lycurgo, disse à
Agência Brasil que a importância do registro é muito grande, porque coloca a
festividade no cenário nacional, e faz com que haja agora políticas de
salvaguarda do bem que foi registrado. “É uma importância central, inclusive
para o desenvolvimento do local, para o aprimoramento das práticas que são
realizadas no local”, disse Lycurgo.
Bens
imateriais
O planejamento
do Iphan prevê registrar quatro bens imateriais este ano e mais cinco em 2022.
Entre os que estão para serem registrados este ano foram citados o Repente e o
Forró, práticas que ultrapassam o limite de um só estado da Região Nordeste.
“Existem várias práticas, saberes e fazeres e estamos trabalhando duramente
para que alcancemos o registro”, disse Lycurgo. Ele disse que a meta, em quatro
anos, é atingir 60 bens registrados. Atualmente, incluindo o Banho de São João,
já são 49 bens registrados.
Tassos Lycurgo
deixou claro que registrar não significa simplesmente dar um título. “O
registro, acima de tudo, é a implementação de uma política pública. Não adianta
sair registrando. A gente registra quando, efetivamente, pensa a forma de
salvaguardar o bem registrado”.
Ele explicou
que o registro pressupõe a implantação da política pública. “Nós estamos
reforçando isso para que, já na análise prévia do registro, haja um
aprofundamento maior dos métodos e formas com os quais nós poderemos
salvaguardar os bens”. Trata-se de uma obrigação compartilhada entre os entes
públicos e a própria sociedade. “Com parcerias e estratégias criativas, estamos
aumentando as possibilidades de salvaguardas dos bens registrados”.
Na pandemia
Localizados na
região pantaneira do Mato Grosso do Sul, às margens do Rio Paraguai, Corumbá e
Ladário são municípios vizinhos, distantes cerca de 350 km da capital Campo
Grande. Em função da pandemia do novo coronavírus (covid-19), o Banho de São
João vem sendo realizado desde o ano passado apenas em âmbito doméstico.
Novenas, terços, alvoradas e levantamento de mastro são promovidos em cada
residência, limitando-se o acesso à comunidade e evitando aglomerações. O
próprio banho na imagem do santo é feito dentro das casas, em bacias ou
tanques.
Para o
festeiro Alfredo Ferraz, o registro contribui para a valorização do Banho de
São João e do Arraial do Banho de São João. “É um ganho imenso. Com o registro
nacional, há mais visibilidade para uma festa que precisa ser conhecida”,
disse.
Alfredo Ferraz
explicou que esse Arraial é realizado somente na região. “O Brasil precisa
conhecer, o mundo precisa conhecer. O registro é uma emoção porque, quando
começamos a montar o processo, era só um sonho. Para os festeiros e devotos,
hoje é uma grande vitória”, completou.
Processo
Quando, em
2010, houve o reconhecimento da Celebração Banho de São João de Corumbá como
Bem Cultural de Natureza Imaterial do estado do Mato Grosso do Sul, foi
solicitado ao Iphan reconhecimento em esfera federal. Estudos realizados a
partir de 2014 apontaram a necessidade de se ampliar o recorte espacial,
incluindo o município de Ladário, onde a tradição também é realizada, informou
o Iphan, por meio de sua assessoria de imprensa.
Em 2018, o
Iphan firmou parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
para dar prosseguimento ao dossiê do Banho de São João. O trabalho contou com
incursões a campo para acompanhar a preparação da festa, resultando em inúmeras
entrevistas, sendo 25 delas gravadas com festeiros, devotos e autoridades
religiosas e político-administrativas. O registro de bens culturais de natureza
imaterial foi instituído pelo Decreto 3.551/2000.
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