Mulheres
são mais votadas no Chile, mas lei as obriga a ceder lugares
País terá
1ª Carta escrita por homens e mulheres na mesma proporção
Publicado em
18/05/2021 - 08:55 Por RTP - Santiago
As candidatas
mulheres foram as mais votadas nas eleições chilenas para a Assembleia
Constituinte, mas a lei de igualdade de gênero, criada para evitar um
predomínio masculino, obrigou-as a ceder vagas aos homens, segundo o Serviço
Eleitoral chileno.
Pela primeira
vez na história, uma Constituição no mundo será escrita por homens e mulheres
em igual proporção. Quando se previa que a iniciativa beneficiasse as mulheres,
o resultado surpreendeu: 11 mulheres tiveram de ceder seus lugares a homens e
cinco candidatos precisaram ceder suas vagas a mulheres. No resultado final,
dos 155 constituintes, os homens serão 78 e as mulheres 77.
O mecanismo de
"correção de resultados por sexo" das eleições de domingo (16) acabou
por favorecer os homens quando o seu espírito, embora visasse à paridade, foi
pensado para beneficiar as mulheres num dos países mais conservadores da
América Latina.
"O
movimento feminista chileno é um dos mais relevantes da região. A onda
feminista propiciou uma nova geração de políticas mulheres, com grande
interesse por parte do eleitorado. Hoje, as mulheres chilenas não precisam de
ações afirmativas de gênero porque demonstraram nas ruas e nas urnas que são
maioria", disse o cientista político Carlos Meléndez, da Universidade
chilena Diego Portales.
O sistema de
paridade chileno funciona por distrito eleitoral, prevendo-se que, se a
paridade entre homens e mulheres não acontecesse de forma natural, o gênero que
superasse o outro em quantidade de votos deveria ceder lugar para corrigir a
disparidade.
Assim, em
determinados distritos os homens cederam, enquanto em outros, na maioria das
vezes, foram as mulheres.
No total, 699
mulheres e 674 homens foram candidatos à Assembleia Constituinte chilena que,
durante o próximo ano, vai redigir uma nova Constituição, que substituirá a da
ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
A Constituição
de 1980 é considerada modelo de desigualdade social. Para fazer correções, a
lei de igualdade de gênero procurou que os homens não fossem maioria no novo
pacto entre o Estado e a população.
Dos 155
constituintes, 17 lugares foram reservados aos índios, que compõem 12,8% da
população chilena. Pela primeira vez, uma Constituição vai reconhecer a
população indígena do Chile.
Também nesse
universo de 17 representantes, a lei de igualdade beneficiou os homens: das 11
mulheres que cederam lugares aos homens, quatro foram indígenas.
A cientista
política Marcela Ríos, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), ressalta que, apesar das correções por sexo, a lei não beneficiou os
homens porque o resultado é consequência do sucesso do critério de paridade.
"Sem o
critério de paridade, as mulheres não seriam metade das opções de candidaturas.
Afirmar que, sem a paridade, teríamos tido mais mulheres eleitas é uma
suposição porque, sem o critério, as mulheres não seriam tantas
candidatas", afirma.
Além de
constituintes, no domingo os chilenos elegeram vereadores, prefeitos municipais
e governadores em eleições nas quais a regra de paridade não existiu. Nesses
casos, as candidatas mulheres foram apenas 39% para os cargos de vereadoras,
23% no caso de prefeitas e 16% para governadoras.
Não só no caso
das mulheres os eleitores chilenos surpreenderam. Os grandes vitoriosos das
eleições constituintes foram os candidatos independentes sem filiação
partidária, mas de esquerda, que ficaram com 48 das 155 vagas.
Os candidatos
dos partidos de esquerda juntos ficaram com 53 vagas. Os representantes
indígenas, também à esquerda, com 17 lugares.
A direita,
embora unida na lista Chile Vamos, obteve 37 vagas, insuficientes para vetar ou
mesmo influenciar no resultado das votações, garantindo o fim dos últimos
vestígios da Constituição neoliberal de Pinochet.
0 Comentários