Cai número de famílias que defendem fechamento de escolas
na pandemia
Estudo mostra que 93% das escolas mantiveram atividades
remotas
O percentual de famílias brasileiras que considera muito
importante manter as escolas fechadas como forma de prevenir a covid-19 caiu em
um ano, de acordo com estudo divulgado hoje (30). No início da pandemia, em
julho de 2020, 82% dos brasileiros afirmavam que era muito importante manter as
escolas fechadas. Em novembro, essa porcentagem caiu para 71%. Agora, em maio
de 2021, são 59%.
Os dados são da terceira etapa da pesquisa Impactos
Primários e Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes, realizada pelo
Ipec - Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) para o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef).
A pesquisa mostra que, após mais de um ano de pandemia, as
escolas começaram a retomar as atividades presenciais. Ao todo, 41% das pessoas
que residem com crianças ou adolescentes disseram que as escolas voltaram a
oferecer essas atividades.
O estudo revela, também, que 93% das escolas mantiveram
atividades remotas, mesmo que tenham voltado às salas de aula. Essa modalidade
ainda apresenta uma série de dificuldades, apesar dos esforços para ampliar o
acesso. Segundo a pesquisa, os principais canais de acesso dos estudantes às
atividades são o WhatsApp (71%) e a distribuição de material impresso (69%). A
falta de acesso à internet (35%) e a falta de equipamento adequado (31%) estão
entre as principais dificuldades para realizar atividades escolares remotas,
sobretudo entre as famílias mais pobres.
Retomada segura
Para a representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, a
retomada das aulas presenciais é importante, mas ela deve ser feita de forma
segura. “É fundamental um diálogo para cada escola, em cada município, cada
estado e nos diversos níveis. Que aconteça esse diálogo entre a comunidade
escolar, ou seja, todos os adultos que trabalham na escola, os professores, as
famílias, as crianças, para definir o protocolo que é mais adequado naquele
momento, naquela situação”, diz.
Segundo Florence, a escola é um espaço importante para
garantir não apenas o aprendizado, mas também a socialização e até mesmo a
segurança alimentar das crianças e adolescentes do país, sobretudo aqueles em
situação de vulnerabilidade. “O importante é que esse diálogo aconteça o quanto
antes e que as escolas possam reabrir, mesmo se for com atividade presencial
limitada no começo. Mas, é importante reafirmar e restabelecer a escola como
espaço de referência para crianças e adolescentes”, defende.
A pesquisa mostra ainda que as medidas individuais de
prevenção à pandemia se mantiveram em alta. Entre os entrevistados, 81% afirmam
que quarentena e isolamento social são medidas muito importantes para conter a
covid-19. Em julho de 2020, eram 84% e em novembro, 81%. Além disso, 94%
reforçam a importância do uso de máscaras, percentual que aumentou em relação a
novembro, 91%.
Impactos
Mais da metade, 56% dos entrevistados, diz que a renda
familiar diminuiu desde o início da pandemia, o que representa 89 milhões de
brasileiros. As classes D e E foram as mais afetadas. Cerca de 40% dessa
parcela da população teve uma redução da renda em mais da metade. Na classe A
essa redução ocorreu para 12%. Entre os motivos está a perda de emprego. No
total, 18% disseram que estavam trabalhando antes e mesmo durante a pandemia e
agora não estão mais.
A alimentação também foi impactada. A pesquisa mostra que,
desde o início da pandemia, 17% dos entrevistados, o que equivale a 27 milhões
de brasileiros com mais de 18 anos, declaram que alguém no domicílio deixou de
comer porque não havia dinheiro para comprar mais comida. Nas classes D e E,
esse percentual chegou a 33%.
A fome chegou também a crianças e adolescentes: 13%
disseram que crianças e adolescentes que moram com eles deixaram de comer por
falta de dinheiro. Nas classes D e E, esse percentual foi também 33%. Entre
aqueles matriculados em escolas públicas, metade afirmou que recebeu
alimentação da escola durante o período de fechamento por causa da pandemia.
Diante desse cenário, 56% dos entrevistados disseram que o
adolescente com quem moram apresentou algum sintoma relacionado a transtornos
mentais durante a pandemia. Entre eles, 29% disseram que os jovens apresentam
mudanças repentinas de humor e irritabilidade; 28% que tiveram alterações no
sono como insônia ou excesso de sono. Também 28%, disseram que houve diminuição
do interesse em atividades rotineiras.
Segundo Florence, políticas públicas como o Auxílio
Emergencial são importantes para mitigar esses efeitos da pandemia. Além disso,
é necessária uma articulação entre diferentes áreas dos governos para que
medidas de assistência, saúde e educação cheguem a toda a população.
Pesquisa
A terceira etapa da pesquisa Impactos Primários e
Secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes fez 1.516 entrevistas, por
telefone, entre 10 e 25 de maio de 2021. A primeira e a segunda rodada da
pesquisa foram divulgadas em agosto e dezembro de 2020, respectivamente.
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