Fruto da Amazônia pode
substituir óleo de Palma
Tucumã também pode ser usado
no lugar da gordura vegetal hidrogenada
Publicado em 16/06/2021 - 19:31 Por Alana
Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
A brasileira Maria Fernanda dos Santos
Mota, doutoranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encontrou no
tucumã, fruto da Amazônia, um substituto sustentável para o óleo de palma, cujo
consumo excessivo tem causado destruição de florestas tropicais para expansão
do seu plantio e ameaça à sobrevivência de populações de orangotangos no mundo.
A pesquisa foi apresentada na conferência Amanhãs Desejáveis, da UFRJ, em maio
passado.
Em entrevista hoje (16) à Agência Brasil,
Maria Fernanda explicou que o tucumã tem as mesmas propriedades do óleo de
palma, também conhecido como óleo ou azeite de dendê. “Em uma determinada
temperatura, esse óleo (de tucumã) fraciona, formando uma fração mais líquida,
que a gente chama de oleína, e uma fração mais sólida denominada estearina.”,
diz. Segundo ela, as frações mais pesadas são usadas como substituto da gordura
vegetal hidrogenada.
Demanda crescente
Segundo relatou Maria Fernanda, quando descobriram
todos os problemas gerados pela gordura vegetal hidrogenada os pesquisadores
perceberam a propriedade do óleo de palma como substituto dessa gordura,
inclusive pelo seu custo mais baixo. Só que, com isso, a demanda pelo
ingrediente cresceu de forma exponencial e, desde os anos 2000, o óleo de palma
é o mais consumido no mundo inteiro.
“Essa demanda tão grande por óleo de palma
tem causado sérios problemas ambientais, principalmente na Malásia, Indonésia,
porque eles estão destruindo as florestas tropicais para plantar mais palma,
para ter mais óleo”. Esses dois países respondem por 87% do produto consumido
no mundo todo.
O Brasil é responsável por 0,5% de todo o
óleo de palma extraído no planeta e suas plantações ficam quase todas na Bahia.
Maria Fernanda diz que não há riscos na exploração do tucumã, já que ela é uma
palmeira de ocorrência espontânea em áreas de regeneração natural.
A ideia não é substituir completamente o
óleo de palma por óleo de tucumã, mas ter uma outra alternativa, até para
produtos com apelo mais sustentável e funcional, porque o óleo de tucumã é mais
rico em ácidos graxos poli-insaturados, quando comparado ao óleo de palma.
“Então, ele tem também um benefício à saúde”.
Amazônia
O plantio mais forte do tucumã no Brasil é
encontrado na região amazônica, no sistema de agrofloresta. “São pequenos
produtores que plantam, extraem e vendem o tucumã e estão organizados em
cooperativas, na Amazônia. O sistema é bem organizado e ajuda a prevenir a
retirada de floresta, porque você torna o fruto algo rentável em comparação com
algumas outras coisas que precisam da retirada da floresta local, algumas até
irregulares”, afirmou.
A parte da pesquisa de fracionamento do
óleo de tucumã não refinado foi realizada na UFRJ, enquanto a parte de análise
das frações foi desenvolvida em laboratório especializado da Monash University,
na Austrália, dentro do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt),
criado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), da qual Maria Fernanda participou. Outra pesquisa, em desenvolvimento
na UFRJ, busca a utilização do tucumã para a fabricação de biscoitos. Maria
Fernanda considera que o fracionamento do óleo de tucumã em uma cadeia parecida
com a do óleo de palma constitui um primeiro passo para que novas pesquisas
mostrem como utilizá-lo em comidas industrializadas.
Propriedades
O óleo de tucumã ainda é pouco usado pela
indústria de alimentos no Brasil. Ele é mais usado na área de cosméticos,
principalmente a manteiga do tucumã. Há pesquisas também para sua utilização
visando a fabricação de biodiesel. “Eu enxergo um óleo que é rico em
propriedades funcionais. É rico em carotenoides, em antioxidantes, rico nas
chamadas gorduras boas. Quando a gente vê um óleo assim, a gente pensa mais em
produção de alimentos do que em biocombustíveis”, assegurou Maria Fernanda.
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