Pandemia
ainda provoca impactos no mercado de trabalho, diz Ipea
Taxa de
desocupação ficou em 15,1%
Publicado em
28/06/2021 - 13:40 Por Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil -
Rio de Janeiro
A melhora da
atividade econômica e o crescimento da população ocupada não foram suficientes
para reduzir o impacto provocado pela pandemia da covid-19 no mercado de
trabalho, que segue com alta no desemprego, subocupação e desalento. A
avaliação faz parte da análise do desempenho recente do mercado de trabalho e
perspectivas para 2021 apresentado, hoje (28), pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea).
Com base nos
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua),
em março, o estudo mostra que a taxa de desocupação ficou em 15,1%, o que
representa 2,3 pontos percentuais acima do resultado do mesmo período do ano
anterior. O crescimento do contingente de desalentados também indica que o mercado
de trabalho não se recuperou. Nos últimos 12 meses, o número de pessoas com
idade de trabalhar que estavam fora da força de trabalho por conta do desalento
avançou de 4,8 milhões para quase 6 milhões, uma alta de 25%.
Desemprego
Segundo a
pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea e autora do estudo, Maria Andréia
Lameiras, os níveis de desemprego ainda estão ruins porque a cada dia que
passa, mais gente volta para o mercado de trabalho para procurar emprego, o que
não ocorria no período inicial da pandemia.
“Muita gente
deixou de procurar emprego por medo de contágio, porque sabia que a situação
econômica estava muito ruim e a probabilidade de conseguir um emprego era muito
pequena e porque existiu o auxílio emergencial que, bem ou mal, deu segurança
ao trabalhador de ficar em casa se protegendo e ter algum meio de
subsistência”, informou em entrevista à Agência Brasil.
A movimentação
da economia que apresentou sinais de melhora no primeiro trimestre de 2021, o
avanço da vacinação e o valor menor do auxílio emergencial, segundo Maria
Andréia, estão fazendo as pessoas procurarem mais o mercado de trabalho o que
vai continuar impactando o nível de desemprego.
“Todas as
pessoas que ficaram desempregadas na pandemia e, também têm chegado para este
contingente, as pessoas que estavam inativas e sem procurar emprego. Quando
chega ao mercado de trabalho sem uma colocação é considerado um desempregado e,
por isso, o contingente de desempregados continua crescendo e vai continua
crescendo, porque o movimento de retorno só tende a crescer nos próximos
meses”, afirmou.
Informalidade
O estudo
indica ainda que a recuperação da ocupação vem ocorrendo de maneira mais
intensa entre os empregados sem carteira e os trabalhadores por conta própria,
que integram os segmentos informais do mercado de trabalho. O contingente de
trabalhadores sem carteira e por conta própria registraram recuos menos
expressivos no primeiro trimestre de 2021 com retrações de 12,1% e de 1,3%
respectivamente, do que no trimestre móvel encerrado em agosto de 2020, quando
os recuos foram de 25,8% e de 11,6%. Para a pesquisadora, a melhora da
recuperação da ocupação pelos informais já era esperada.
“Porque
primeiro foi o segmento mais afetado pela pandemia que foi o de serviços e de
comércio. Segundo porque a gente já tinha visto que a pandemia causou menos
estrago no setor formal. O emprego com carteira acabou sendo um pouco mais
preservado durante a pandemia, porque é o trabalho com melhor qualificação, o
trabalhador consegue fazer home office, então, foi de fato mais preservado. O
informal foi mais atingido e é compreensível que, na retomada, acabe
liderando”, comentou.
A pesquisadora
destacou que, embora apresentasse sinais de recuperação no período de
pré-pandemia, a situação do mercado de trabalho não era excepcional.
“Vem a
pandemia e piora ainda mais, sendo que a gente já estava partindo de um ponto
que não era excepcionalmente bom. Só que, quando a gente olha a foto do último
trimestre, há indícios de melhora, porque a gente está vendo que a ocupação que
caiu fortemente no segundo semestre, ela já começa a melhorar, claro que quando
compara com o número de ocupados de um ano atrás a gente ainda está com taxa de
negativa, mas quando olha a margem essa taxa negativa está cada vez menor”, disse.
Mais
atingidos
A análise
mostrou ainda que, no primeiro trimestre de 2021, se comparado ao mesmo período
de 2020, a taxa de desocupação foi maior para as mulheres (17,9%) do que para
os homens (12,2%). Além disso, os mais jovens seguem como os mais prejudicados,
com taxa de desocupação de 31%; enquanto o desemprego dos mais idosos é menor
(5,7%). Na escolaridade, os trabalhadores com ensino médio incompleto e
completo foram os mais impactados pela pandemia na relação com as taxas de
desocupação, que avançaram de 20,4% e 14,4% para 24,4% e 17,2%, de 2020 para
2021, respectivamente. Já os trabalhadores com menor taxa de desemprego, no
período, foram os que possuem ensino superior (10,4%).
Nas regiões, a
alta do desemprego foi generalizada. Com exceção de Roraima e do Amapá, todas
as unidades da federação registraram aumento da desocupação este ano. As
maiores taxas ficaram com Pernambuco (21,3%), Bahia (21,3%), Sergipe (20,9%),
Alagoas (20%) e Rio de Janeiro (19,4%).
Perspectivas
O cenário é
favorável para 2021, de acordo com a economista Maria Andreia Lameiras. “Para
os próximos meses, a expectativa é que o movimento de recomposição da força de
trabalho se intensifique. O avanço da vacinação combinado à retomada mais forte
da atividade econômica deve ampliar a geração de empregos”, destacou.
A expansão da ocupação, entretanto, não será suficientemente forte para reduzir a taxa de desemprego no período devido ao esperado aumento da força de trabalho (com mais pessoas procurando emprego).
Pré-pandemia
A pesquisadora
acredita que, mantido o cenário atual, o mercado de trabalho poderá voltar ao
nível pré-pandemia no primeiro trimestre de 2022.
“No primeiro
trimestre de 2022, acho que a gente volta para o nível pré-pandemia. Mantido o
cenário atual. A gente está imaginando que não vai ter nenhuma grande variante
[de covid-19], nenhum distúrbio político no país. A gente está imaginando com
as informações que tem hoje de uma economia que está ganhando força. Tudo leva
a crer que a gente vai ter a ocupação aumentando no segundo semestre e no
primeiro trimestre do ano que vem, de maneira que a gente deve pensar o
primeiro trimestre de 2022 próximo do patamar que a gente tinha”, completou.
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