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Academia Brasileira de Ciências lança documento em defesa de Oceano

 

Academia Brasileira de Ciências lança documento em defesa de Oceanos

ABC propõe criação de instituto nacional para pesquisa oceânica

Publicado em 20/07/2021 - 19:48 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Em conjunto com mais de 140 academias, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) reforçou hoje (20) a necessidade de proteger o oceano como meio de proteger a própria vida na Terra. A instituição lançou documento em defesa dos oceanos, em apoio à Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, declarada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o período de 2021 a 2030.

Entre as principais recomendações do documento está a criação de um instituto nacional que coordene as atividades científicas relativas à pesquisa oceânica, promovendo a cooperação internacional e subsidiando as políticas públicas sobre o oceano, visando o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Na avaliação do professor Luiz Drude, da Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenador do documento, é preciso criar uma grande instituição em pesquisa oceanográfica no Brasil para fazer a governança da rede oceanográfica, “para colocar o Brasil como um player internacional nesse assunto”.

Para o presidente da ABC, Luiz Davidovich, o Brasil precisa fazer a sua parte, protegendo o mar que banha o litoral nacional “contra atividades predatórias que reduzem sua rica biodiversidade e prejudicam seus serviços ecossistêmicos. Essa é a nossa Amazônia Azul, fonte de riqueza para o Brasil, a ser explorada de forma sustentável, de acordo com a evidência científica", manifestou.

Mudança

Luiz Drude lembrou que o mundo está no limiar de uma gigantesca mudança planetária, que tem sido, até agora, desacelerada devido à existência dos oceanos. Destacou, porém, que grande parte do oceano global está ameaçada pelas atividades humanas que elevam o grau de destruição dos oceanos. Entre as ameaças, citou a acidificação, a desoxigenação, poluição, aquecimento, aumento do nível do mar, frequência de eventos climáticos extremos e a exploração insustentável dos recursos marinhos.

De acordo com a ABC, com acúmulo de nutrientes, poluentes orgânicos, metais pesados e plásticos, o oceano vem sendo assolado pela contaminação ambiental, que representa uma ameaça à economia e à saúde pública. A contaminação por mercúrio do oceano global constitui ameaça direta à segurança alimentar, expôs Luiz Drude.

Entre as recomendações da ABC referentes às metas da ciência oceânica para o desenvolvimento sustentável estão evitar, mitigar ou compensar impactos negativos sobre o ambiente marinho, por meio da adoção de ações cientificamente embasadas e vocacionadas para o bem-estar da humanidade; planejar, implementar e dar escala a ações, inclusive na esfera legal, que reduzam a intensidade do impacto ambiental negativo sobre os ecossistemas costeiro e marinho, com ênfase nas mudanças climáticas e na poluição marinha.

Resposta

O professor emérito do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), Edmo Campos, disse que a resposta para a pergunta se ainda dá tempo de reverter o aquecimento global só virá por meio de investigações continuadas por períodos longos, com colaboração internacional e que não podem depender só de indivíduos. “As mudanças climáticas na Antártica já estão atingindo regiões abissais, o que não é uma boa notícia”, exemplificou.

Campos afirmou que as ações humanas estão produzindo um aquecimento global que está levando o planeta a passar de uma temperatura média amena para uma situação de grande instabilidade que pode levar para um novo clima. Se a taxa de aumento da temperatura continuar como na atualidade, no ano de 2100, a temperatura média global será a maior registrada nos últimos 10 milhões de anos, advertiu. Acrescentou que se continuarem as emissões de gases de efeito estufa, o resultado pode ser a transformação do planeta em uma “Terra estufa”, onde as temperaturas serão muito superiores às de hoje. A alternativa, segundo o professor da USP, é a sociedade tomar medidas que estabilizem o clima em um patamar mais ameno.

Para Edmo Campos, a solução está nos oceanos, que conseguem atenuar as alterações do clima. Campos informou que o oceano global tem absorvido mais de 90% do excesso de calor injetado na atmosfera desde a Revolução Industrial.

Amazônia Azul

O almirante de esquadra Ilques Barbosa focou sua apresentação na Amazônia Azul, território marítimo brasileiro de 3,6 milhões de quilômetros quadrados, registrado como zona econômica exclusiva (ZEE), e sua importância para a sobrevivência e prosperidade do Brasil. O presidente da ABC, Luiz Davidovich, lembrou que a Amazônia Azul tem uma extensão comparável ao tamanho do território nacional. “É um bioma extremamente importante, de onde vem petróleo, peixes e muito mais. São uma biodiversidade e riqueza fantásticas que podem servir, por exemplo, para insumos de novos medicamentos. Mas para isso, nós precisamos cuidar”, salientou.

Na parte econômica, em especial, o almirante citou alguns problemas, entre os quais a pesca predatória, que prejudica os oceanos e os pescadores artesanais; os cabos submarinos que ligam o Brasil aos grandes centros do mundo; e a necessidade de aprimorar a qualidade da água. O almirante acredita que a pesca correta e as energias renováveis podem contribuir para a sobrevivência dos oceanos e a prosperidade das populações do Brasil e do mundo. Para isso, assegurou que “a ciência é vital, tanto a ciência básica como a ciência aplicada”.

Ilques Barbosa acentuou também a importância da Associação do ‘Cluster’ Tecnológico Naval para contribuir com a agenda da década dos oceanos da ONU. Essa associação é formada pelas empresas Nuclep, Condor, Emgepron e Amazul. A associação objetiva a promoção do mercado interno, capacitação e formação, inovação e tecnologia, valorização do mercado local e encadeamento produtivo entre pequenas, médias e grandes empresas. Além disso, procura mobilizar as sete cidades no entorno da Baía de Guanabara (Rio, Niterói, Magé, Duque de Caxias, São Gonçalo, Guapimirim e Itaboraí), com o estado do Rio e a União, para criar mecanismos e possibilitar ações em prol do desenvolvimento da indústria marítima como um todo. Ilques Barbosa afirmou que o ‘cluster’ está se desenvolvendo para a construção de elos para uma economia “mais azul”.

O documento da ABC salienta também a capacitação na criação de equipamentos e insumos essenciais ao desenvolvimento da pesquisa marinha; a necessidade de aprimoramento na regulamentação da exploração de recursos naturais marinhos; promoção da cultura oceânica e a participação ativa da sociedade no processo de formulação e implementação de políticas públicas, de forma a ampliar o reconhecimento da importância do oceano e suas vulnerabilidades, entre outras medidas.

Agência Brasil


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