Mortalidade por covid-19 na Região Norte é
mais alta, diz pesquisa
Manaus lidera, com a maior taxa de
mortalidade ajustada por idade
Publicado em 07/07/2021 - 07:30 Por Camila
Boehm – Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Pesquisa mostra que as taxas de
mortalidade por covid-19 nas capitais da Região Norte em 2020 foram maiores do
que mostram as taxas brutas. Manaus lidera a posição com a maior taxa de
mortalidade ajustada por idade, chegando a 412,5 mortes por 100 mil habitantes.
A cidade enfrentou o colapso no sistema de saúde, com falta de oxigênio para
tratamento dos pacientes infectados pela covid-19, no início deste ano.
Os resultados são de estudo da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Universidade de São Paulo
(USP) e do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca),
publicado na revista Cadernos de Saúde Pública nesta quarta-feira (7), que
analisou o período de março de 2020 a 30 de janeiro de 2021.
A taxa bruta corresponde ao número total
de óbitos por 100 mil habitantes, que é influenciada pela estrutura etária de
cada população. Altas taxas de mortalidade podem refletir uma elevada proporção
de pessoas idosas na população total, como é o caso do Sudeste.
O método utilizado no estudo é a taxa de
mortalidade padronizada por idade, com intervalos de dez em dez anos, de modo a
eliminar os efeitos da diversidade da estrutura etária nas populações e conseguir
fazer um retrato mais fiel da mortalidade por covid-19 em populações
diferentes. Para o cálculo das taxas padronizadas por idade, utilizou-se a
estrutura etária da população brasileira estimada para 2020.
Apesar de as taxas brutas mostrarem que Manaus
e o Rio de Janeiro têm mortalidade similar, com 253,6 por 100 mil e 253,2 por
100 mil, respectivamente, a análise revelou maior vulnerabilidade e risco de
morte por covid-19 na capital amazonense. Na capital fluminense, fazendo o
ajuste por faixas etárias, a mortalidade caiu para 195,74 por 100 mil.
“[A pesquisa] revelou que o peso da
mortalidade por covid-19 foi muito maior na Região Norte. Realmente aquilo que
a gente viu, aquela explosão [de mortes] que a gente viu em Manaus mostrou que,
comparativamente, lá o peso da mortalidade foi muito mais alto do que no Rio
[de Janeiro] e em São Paulo. Embora Rio e São Paulo também tenham mortalidade
muito expressiva”, disse a pesquisadora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, uma
das autoras do estudo.
Outro dado que revela o maior risco de mortes pela doença na capital amazonense é que, apesar de a doença ter desfechos mais graves em idosos, a proporção de óbitos por covid-19 em menores de 60 anos em Manaus foi de 33%, enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo foi de 22%.
O estudo concluiu que “a mortalidade
precoce em Manaus foi substancialmente maior do que em outras capitais como São
Paulo e o Rio de Janeiro”. Nas faixas etárias de 70-79-80 anos ou mais, as
taxas de Manaus dobram se comparadas às do Rio de Janeiro e triplicam em
relação às de São Paulo. capital paulista, a taxa bruta foi de 140,74 mortes
por 100 mil, enquanto a taxa padronizada por idade foi de 125,35 por 100 mil.
“Em primeiro lugar, se a gente está
falando de morte, a gente está falando de assistência. São pessoas que ficaram
infectadas, evoluíram mal e infelizmente algumas foram mal assistidas, então
fila de espera aumenta o risco, não ter condições adequadas de atendimento
aumenta muito o risco. O que nós vimos em Manaus? Faltou oxigênio”, disse
Gulnar, explicando que más condições assistenciais aumentam o risco de morte
pela doença.
Ela ressaltou a importância da contenção
do número de infectados diante de um possível colapso do sistema de saúde. “Se
você tem um sistema de saúde que não dá conta, as pessoas vão morrer por falta
de assistência ou por uma assistência inadequada naquele momento.”
Depois de Manaus, as maiores taxas de
mortalidade foram observadas nas cidades de Porto Velho e Boa Vista, que
passaram de 172,98 para 304,75 mortes por 100 mil habitantes (aumento de 76%) e
de 124,39 para 246,44 por 100 mil (aumento de 98%), com o ajuste por idade.
Todas as capitais do Norte registraram
aumento quando tiveram suas taxas de mortalidade ajustadas por idade da
população. No sentido contrário, todas as capitais das regiões Sul e Sudeste
tiveram as taxas padronizadas por idade menores do que as taxas brutas.
Na Região Nordeste, houve aumento nas
taxas padronizadas por idade em Teresina, São Luís, Fortaleza, Maceió e
Aracaju. No Recife, foi constatada queda, e no restante não houve diferença
significativa entre as taxas. No Centro-oeste, houve aumento em Brasília,
Cuiabá e Goiânia.
Para os pesquisadores, além da estrutura
etária, outros fatores podem ser decisivos para aumentar o risco de morte,
independentemente da idade. “A ausência de políticas preventivas adequadas e a
baixa capacidade de resolutividade da rede assistencial expõem um contexto de
grande desigualdade socioeconômica e iniquidade de acesso aos serviços de
saúde” diz a pesquisa.
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