Covid-19: escolas reiniciam ensino presencial em nove
estados
Especialistas alertam para cuidados que devem ser tomados
Publicado em 02/08/2021 - 07:28 Por Mariana Tokarnia -
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
No segundo semestre deste ano, mais escolas públicas e
particulares deverão retomar as atividades presenciais. A volta às salas de
aula ocorrerá de forma diferente em cada localidade. O ensino remoto ainda deve
seguir, mesmo que junto com o presencial, para evitar aglomerações. Para que as
escolas sejam reabertas da forma mais segura possível, segundo especialistas,
além de cumprir os demais protocolos de segurança, uma atitude faz toda a
diferença: que todos usem máscaras da maneira correta, cobrindo o nariz e a
boca.
Segundo levantamento feito pelo Conselho Nacional de
Secretários de Educação (Consed), atualizado na última quinta-feira (26), pelo
menos nove estados e o Distrito Federal definiram os calendários ou sinalizaram
a volta ao ensino presencial ao menos para uma parcela dos estudantes neste
segundo semestre. Esses estados são Acre, Alagoas, Ceará, Sergipe, Goiás,
Piauí, Roraima, Tocantins e Mato Grosso do Sul.
Eles se somam a Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, São
Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná, que já retomaram este ano alguma atividade presencial. Os demais
estados ainda estão sem definição. As redes públicas estaduais concentram as
matrículas do ensino médio e dos anos finais do ensino fundamental, do sexto ao
nono ano.
Entre as redes municipais, o último balanço divulgado pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) mostrou que cerca de 16% das redes já retomaram o ensino presencial em 2021. A maioria em modelo híbrido, ou seja, mesclando aulas presenciais com o ensino remoto. As redes municipais são responsáveis, por sua vez, pela creche, pré-escola e ensino fundamental até o quinto ano.
Entre as escolas particulares, a reabertura, de acordo com
balanço da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), já é permitida
em todos os estados. Cabe às escolas, de acordo com o contexto local, definir
como se dará a retomada conforme as necessidades dos alunos e das famílias.
Orientações para a reabertura
Visando orientar escolas e redes de ensino no retorno às
atividades presenciais, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, em julho
deste ano, um parecer com esclarecimentos sobre cumprimento de carga horária,
formação de professores e outras questões. O documento, aprovado por
unanimidade, aguarda a homologação do Ministério da Educação (MEC).
“O CNE reconhece, em primeiro lugar, que a pandemia não
acabou”, disse o conselheiro Mozart Neves Ramos. “A primeira [recomendação] é o
controle sanitário e a vacinação, para o retorno seguro ao presencial.
Recomendamos fortemente esse retorno presencial, porque os danos de
aprendizagem que estão aí são muito preocupantes”, acrescentou.
O Conselho recomenda, ainda, que seja feita uma avaliação
diagnóstica para saber a situação de cada estudante e o que pode ser aprendido
até o momento. A orientação é que as escolas sigam a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), documento que reúne o mínimo que deve ser aprendido a cada
ano, como o essencial que deve ser passado aos estudantes.
O ensino remoto, segundo Ramos, deverá permanecer, seja
para que estudantes intercalem aulas presenciais com a distância para evitar
aglomeração, seja para recuperar conteúdos que não foram aprendidos até o
momento. Para isso, os professores devem também ser formados.
“Uma recomendação forte do CNE para o ensino híbrido [que
mescla presencial e remoto]. Não dá para fazer como se fez no ano passado. No
ano passado, era o que tinha. Os professores foram para a luta sem estar
preparados. A consequência foi, mesmo para quem teve a oportunidade de acesso
ao ensino híbrido, situações muito a desejar, porque não tínhamos nem material
adequado para isso”.
Uso de máscaras
Usar máscaras de boa qualidade e da maneira correta, bem
justas ao rosto, cobrindo o nariz e a boca, reduz o contágio por covid-19 nas
escolas significativamente, de acordo com estudos do projeto ModCovid19. Por
meio de simulações, o grupo de estudos concluiu que, sem os devidos cuidados,
com o uso de máscaras de pano finas que não retêm as partículas
apropriadamente, o risco de contrair a doença aumenta 1.141%.
Caso os professores utilizem todos máscaras do modelo PFF2,
adequadamente, cobrindo o nariz e a boca, e os estudantes usem corretamente
máscaras de pano de boa qualidade - mais grossas, com duas camadas de tecido -
o percentual de contágio cai para 39%.
“Se estamos em um ambiente fechado, como são muitas salas
de aula, a maior linha de infecção é inspirando partículas virais que estão no
ar”, explicou o bolsista Marie Curie, na Universidade de Roma Guilherme
Goedert, que integra o grupo de estudos e é responsável pelo desenvolvimento do
modelo de simulação. “É a nossa recomendação de ouro, tudo que a gente testou
funcionou muito melhor com professores com PFF2”, ressaltou.
Goedert disse que os professores circulam entre as turmas e
são também os que mais falam em voz alta, expelindo mais partículas no ambiente
e facilitando a disseminação da covid-19 caso sejam contaminados, por isso
precisam dessa proteção.
A recomendação para os alunos é uma máscara de tecido
grosso que se ajuste bem ao rosto. “Pode usar [máscara] de pano, mas tem que
ser de boa qualidade e tem que se ajustar bem ao rosto, senão não é efetiva. Se
puderem, havendo de pano e descartáveis, juntando ambas, estudos mostram que
aumenta bastante o poder de filtragem com o uso das duas máscaras juntas”.
Além do uso de máscaras, a circulação do ar nas salas, por
meio de janelas e portas abertas; a divisão dos estudantes em grupos que se
alternam entre aulas presenciais e remotas, para reduzir aqueles que ficam nas
salas; e o rastreamento de casos - se houver caso na família, o estudante deve
ser afastado por 14 dias. Se o aluno ficar doente, o grupo presencial dele deve
ser todo afastado - são medidas que aumentam a segurança no retorno às
aulas.
“Estamos reabrindo as escolas quando uma nova variante está
chegando. Precisamos reabrir? Precisamos. Mas, precisamos ter cuidado em como
fazer isso”, disse o pesquisador.
O ModCovid19 é um grupo de estudos formado por pesquisadores
do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São
Paulo (USP) de São Carlos (ICMC), Instituto de Matemática, Estatística e
Computação Científica da Unicamp (Imecc), do Instituto de Matemática Pura e
Aplicada do Rio de Janeiro (Impa), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e
da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio).
Cuidados com o emocional
Além de todos os cuidados para evitar a disseminação, outro
cuidado será necessário nesse retorno: o emocional. Para a gerente de projetos
do Instituto Ayrton Senna e especialista na área de Formação de Educadores,
Silvia Lima, a relação entre as escolas e as famílias será fundamental para o
processo de readaptação dos estudantes no retorno às atividades escolares
presenciais e servirá como importante ponto de apoio no cuidado emocional de
todos.
“Famílias e professores devem considerar não apenas como se
dará a retomada dos conteúdos pedagógicos, que estará definida nos planos de
retorno e readaptação à rotina escolar, mas também ao cuidado socioemocional.
Contudo, será preciso cuidar das emoções e sentimentos da equipe escolar e dos
estudantes, retomando os processos de ensino e aprendizagem com base no
acolhimento e empatia”, disse.
Este é, de acordo com Silvia, um momento importante para
que se trabalhe nas escolas as chamadas habilidades socioemocionais, que estão
previstas inclusive na Base Nacional Comum Curricular. “Sendo as competências
socioemocionais as capacidades individuais das pessoas que se manifestam por
meio dos pensamentos, sentimentos e comportamentos, é possível aproveitar para aliar as competências socioemocionais a
uma rotina de sala de aula e trabalhar não só com os estudantes, mas também com
os educadores. Foco, empatia, respeito, tolerância ao estresse, imaginação
criativa, organização e outros [fatores] serão importantes para essa retomada”,
explicou.
O instituto elaborou um guia com dicas para a acolhida pós
isolamento social, que está disponível na internet.
Agência Brasil
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