Estudo
associa poluição do ar a maior gravidade de doenças mentais
Pesquisa
foi publicada pela Universidade de Cambridge
Publicado em
27/08/2021 - 09:19 Por Carla Quirino - Repórter da RTP - Londres
Um estudo que
envolveu 13 mil pessoas em Londres concluiu que a exposição a ar poluído pode
levar ao agravamento de doenças mentais. Os investigadores britânicos cruzaram
dados médicos, desde os primeiros contatos com os serviços de saúde, aos níveis
de poluição de áreas residenciais. Acreditam que a ligação entre o ar poluído e
danos mentais é "biologicamente plausível".
O dióxido de
azoto, também conhecido por dióxido de nitrogênio - NO2 - está identificado
como um dos principais poluentes que circulam na atmosfera. Provém de
combustíveis fósseis, como o petróleo ou carvão. Queimados a elevadas
temperaturas nos motores dos automóvel e no setor industrial, transformam-se em
gás tóxico e são emitidos para o ar que respiramos.
Os riscos na
saúde humana, principalmente em doenças respiratórias e pulmonares, estão amplamente
comprovados.
O novo estudo
britânico, publicado pela Universidade de Cambridge, avalia a possível
gravidade da saúde mental associada à exposição de ar poluído.
Os
pesquisadores dizem no trabalho que as "evidências sugerem que a exposição
à poluição do ar pode afetar adversamente o cérebro e aumentar o risco de
transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia e depressão. No entanto, pouco se
sabe sobre o papel potencial da poluição do ar na gravidade e na recaída após o
início da doença".
Os cientistas
rastrearam pacientes no sul de Londres e cruzaram as estimativas da poluição
vinculadas às suas residências.
Os níveis
médios de NO2 na área de estudo variaram entre 18 e 96 microgramas por metro
cúbico (µg / m³), a cada três meses. Os investigadores descobriram que os
indivíduos expostos a níveis 15 µg / m³ mais elevados de poluição tinham um
risco 18% maior de serem internados no hospital e 32% maior de necessitar de
tratamento em ambulatório após um ano.
A relação com
o dióxido de nitrogênio tornou-se mais clara quando o níveis de partículas
pequenas variaram de 9 para 25 µg / m³, associada a uma exposição três vezes
mais, aumentando o risco de internamento em 11% e o risco de tratamento em
ambulatório em 7%.
O estudo
revela que os dados do doente avaliado sete anos depois do primeiro tratamento
mantêm a ligação com a poluição atmosférica.
Para os
cientistas, "a exposição das habitações ao ar poluído está associado ao
aumento do uso de serviços de saúde mental entre pessoas recentemente
diagnosticadas com transtornos psicóticos e de humor".
Os
pesquisadores estimaram que "reduzir a exposição da população urbana do
Reino Unido à poluição por pequenas partículas, por apenas algumas unidades,
até o limite anual da Organização Mundial da Saúde de 10µg / m³", teria
impacto nos serviços de saúde mental. Poderia haver uma redução em cerca de 2%
e seriam economizadas dezenas de milhões de libras por ano.
"Identificar
fatores de risco modificáveis para a gravidade da doença e recaída pode ajudar
os esforços de intervenção precoce, reduzir o sofrimento humano e os altos
custos econômicos causados por doenças mentais crônicas de longo prazo",
destacam os autores do estudo.
Kevin
McConway, professor da Open University, não faz parte da equipa que assina o
estudo, mas faz uma avaliação positiva do trabalho.
"Este é
um bom estudo. A análise estatística é geralmente apropriada e aumenta a
confiança de que há pelo menos algum elemento de causa e efeito na associação
entre poluição e saúde mental", diz McConway, citado na publicação
britânica Guardian.
"Mas não
é fácil para as pessoas evitarem a poluição. A redução da poluição do ar nas
cidades requer uma ação comunitária em ampla escala", acrescenta.
O Banco
Mundial estima que a poluição do ar custa à economia global bilhões de dólares,
mas apenas inclui patologias do coração e pulmões.
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