Indicador do Ipea mostra que investimentos cresceram 1,6%
em maio
Alta representa uma recuperação de apenas uma parte da
queda de abril
Publicado em 02/08/2021 - 14:23 Por Cristina Indio do
Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Os investimentos cresceram 1,6% em maio na comparação com o
mês anterior. Em relação ao mesmo período de 2020, a expansão ficou em 0,5%. Os
dados, do Indicador Mensal de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), foram
divulgados hoje (2) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O indicador
é composto por máquinas e equipamentos, construção civil, outros ativos fixos e
a sua evolução representa aumento da capacidade produtiva da economia e a
reposição da depreciação do estoque de capital fixo.
Segundo o Ipea, a alta nos investimentos de maio representa
uma recuperação de apenas uma parte da queda de 17,4% registrada no mês
anterior. Em abril, os investimentos foram influenciados pela forte queda nas
importações, explicada por uma base de comparação elevada em março. Também
foram contabilizadas muitas operações envolvendo importações de plataformas de
petróleo associadas ao Repetro, o regime aduaneiro especial de exportação e de
importação de bens que se destinam às atividades de pesquisa.
“Esse regime se encerrou em dezembro do ano passado, mas
mesmo tendo acabado existe uma defasagem com relação à contabilização do que
aconteceu até dezembro, por isso a gente ainda viu ao longo dos cinco primeiros
meses de 2021 esse feito ainda nas estatísticas porque são coisas que
aconteceram até dezembro do ano passado, mas ainda estão sendo contabilizadas”,
explicou o autor do estudo e pesquisador do Ipea, Leonardo Carvalho, em
entrevista à Agência Brasil.
“Ao longo dos próximos meses, a gente espera que isso pare
de acontecer. A tendência é que esses efeitos contábeis se encerrem de uma vez
por todas, e possamos ter uma visão mais clara sem esse tipo de ruído”, disse.
Com o resultado, no trimestre móvel terminado em maio o
indicador continuou apresentando queda de 19,2% em relação ao período anterior
terminado em fevereiro. Mesmo assim, em relação ao mesmo trimestre de 2020, o
indicador de FBCF mostrou alta de 20%. No resultado acumulado em 12 meses
encerrado em maio, os investimentos apresentaram expansão de 7,2% contra 6,9%
registrado em abril.
O consumo aparente de máquinas e equipamentos apresentou
alta de 15% em maio, encerrando o trimestre móvel com queda de 32,9%. Enquanto
a produção de máquinas e equipamentos destinados ao mercado interno apresentou
crescimento de 4,8% no mês, a importação cresceu 82,9% no mesmo período. Esse
comportamento volátil nos últimos meses, tem sido explicado, em grande medida,
pelo efeito das chamadas importações fictas de plataformas de petróleo
associadas ao Repetro. No acumulado em 12 meses, a demanda interna por máquinas
e equipamentos registrou aumento de 12,5%.
Construção civil
O indicador de investimentos em construção civil, após
modesto crescimento verificado em março, teve a segunda queda consecutiva na
margem, recuando 1% em maio. Com isso, o segmento apresentou uma queda de 4,9%
no trimestre móvel.
Para Leonardo Carvalho, até o mês de maio os indicadores de
atividades e de emprego apresentavam queda. Em junho, já houve uma reversão em
relação ao nível de atividade do setor e também nos níveis de emprego. “A gente
espera que já em junho o nosso indicador também apresente alguma melhora nesse
componente da construção, que é um componente importante para a economia como
um todo, porque assim como serviços, a construção civil emprega muito. Então,
como a gente ainda convive com taxas muito elevadas de desocupação, a
recuperação da construção civil, assim como a de serviços, são fatores
importantes para sustentar uma recuperação mais robusta da economia, através do
mercado de trabalho que é o que realmente dá sustentação ao consumo e ao
investimento”, disse.
O pesquisador destacou que com o avanço da vacinação e a
realização de alguns projetos de infraestrutura, que vão acontecer ao longo do
ano, é possível ocorrer uma melhora nos investimentos. “Vão melhorar também por
causa da recuperação da construção, que é um componente com peso relevante e
que emprega bastante”, acrescentou.
O estudo apontou ainda que na comparação interanual, o
desempenho foi heterogêneo. O destaque ficou por conta do componente construção
civil, que subiu para um patamar 7,2% superior a maio de 2020. Enquanto o
componente outros ativos fixos teve queda de 4,1%, e na demanda por máquinas e
equipamentos o recuo ficou em 4%. Na comparação trimestral, os resultados foram
positivos.
“Nas comparações com o ano passado, a gente tem visto resultados
elevados porque foi um período ruim, particularmente no mês de abril. A partir
de maio já se vê alguma recuperação, mas especificamente nos investimentos, com
um mês de maio muito forte e uma recuperação elevada em maio do ano passado,
então, isso explica porque o crescimento contra esse mês de maio do ano passado
foi modesto no nosso indicador”, disse.
De acordo com Leonardo Carvalho, embora tenha ocorrido um
bom desempenho basicamente puxado pelo componente de máquinas e equipamentos, o
indicador tem apresentado uma volatilidade um pouco maior nos últimos meses
ainda por conta do efeito das importações de plataformas de petróleo. “A gente
tem tido uma variação muito grande no resultado das importações, muito por
causa disso. Então, se no mês passado as importações caíram 78%, esse mês elas
cresceram 82%. Isso também ajudou, em parte, a explicar o resultado positivo,
mas é um ruído que tem prejudicado um pouco o entendimento da evolução desses
componentes do investimento”, explicou.
Confiança
O pesquisador destacou que de um modo geral, em termos de
confiança, ao se observar os resultados das pesquisas da Fundação Getulio
Vargas (FGV) e da própria Confederação Nacional da Indústria (CNI), se vê um
nível de confiança bastante positivo dos empresários, tanto nos setores de bens
de capital, máquinas e equipamentos, quanto nos setores da construção civil.
Projeção
O autor do estudo disse que no final de março o Ipea
projetava uma queda do segundo trimestre contra o primeiro de 9,3%. Grande
parte disso, também, segundo ele, se explica pelo efeito de base de comparação
envolvendo a importação de plataformas que inflaram muito os investimentos no
primeiro trimestre. “Para o acumulado do ano em 2021, a gente está prevendo um
aumento de 10,7% dos investimentos. Claro que tem um ano de 2020 com todos os
problemas que a gente já sabe e é normal que tenha um crescimento maior em ano
seguinte ao da crise”, disse.
Agência Brasil
0 Comentários