Desemprego cai para 13,7%, revela pesquisa do Ipea
Índice no trimestre encerrado em março foi de 15,1%
Publicado em 27/09/2021 - 13:14 Por Cristina Índio do
Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
O desemprego recuou para 13,7% em junho, último mês do
trimestre móvel iniciado em abril. O percentual foi atingido depois de ficar em
15,1% em março. Já a taxa de desocupação dessazonalizada, que exclui os efeitos
das variações sazonais do conjunto de dados temporais de junho (13,8%), é a
menor apurada desde maio de 2020.
Os números estão no estudo, divulgado, hoje (27), no Rio de
Janeiro, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele analisou o
desempenho recente do mercado de trabalho, com base na desagregação dos
trimestres móveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD
Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e em
informações do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do
Ministério da Economia.
A pesquisa do Ipea mostrou, ainda, que o crescimento
recente das contratações tem ocorrido, principalmente, em setores que empregam
relativamente mais mão de obra informal. Entre eles, estão o da construção, que
registrou alta anual da população ocupada em 19,6%, a agricultura (11,8%) e os
serviços domésticos (9%).
“Deu uma melhorada. É uma coisa que a gente já estava vendo
no início do segundo trimestre. O desemprego está caindo porque a ocupação está
crescendo. A ocupação está voltando e a gente está conseguindo uma redução do
desemprego em um ambiente de aumento de PEA [População Economicamente Ativa].
Todas aquelas pessoas que saíram do mercado de trabalho por conta da pandemia
estão voltando a procurar emprego. Mesmo com essa população voltando, ainda
assim a gente está conseguindo reduzir o desemprego porque a ocupação está
subindo”, disse a pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea, Maria Andréia
Lameiras, em entrevista à Agência Brasil.
Outro dado do estudo é que, no segundo trimestre de 2021, na comparação interanual, a expansão dos empregados no setor privado sem carteira atingiu 16% e a dos trabalhadores por conta própria, 14,7%.
Ainda com base nos dados da PNAD Contínua, o aumento do
emprego no segundo trimestre se espalhou por todos os segmentos da população,
se comparado ao mesmo período do ano anterior, mas teve destaque o crescimento
da ocupação entre as mulheres (2,2%), jovens (11,8%) e trabalhadores com ensino
médio completo (7%).
Cenário difícil
Maria Andréia chamou atenção, no entanto, para o fato de
que mesmo, com os resultados positivos, alguns indicadores importantes mostram
que outros aspectos do mercado de trabalho brasileiro permanecem em patamares
desfavoráveis. Ela destacou que a alta da ocupação tem ocorrido muito em cima
da informalidade, o que não chega a surpreender porque foi o setor mais
atingido pela pandemia. “São eles que estão voltando. A gente vê um crescimento
grande do emprego sem carteira e do [emprego] por conta própria”, disse.
Acrescentou que, apesar do recuo pequeno na questão do
desalento, ainda há a manutenção da subocupação em patamar elevado. “Essas
pessoas até estão voltando ao mercado de trabalho, mas não na condição que
gostariam de estar. Tem uma parcela grande da população que pode ofertar mão de
obra, mas não está conseguindo espaço”, detalhou.
Além disso, há um dado preocupante que é o aumento do tempo
de permanência no desemprego. Os microdados de transição extraídos da PNAD
Contínua para a realização do estudo do Ipea, indicaram que o percentual de
trabalhadores desocupados, que estavam nesta situação por dois trimestres
consecutivos, subiu de 47,3% no primeiro trimestre de 2020 para 73,2% no
segundo trimestre de 2021. A situação se agrava com o recuo da parcela de
desempregados que obteve uma clocação no trimestre subsequente de 26,1% para
17,8% no mesmo período.
“A população que está procurando trabalho há mais de dois
anos tem sofrido bastante e isso é ruim porque tem uma literatura grande de
mercado de trabalho que mostra que, quanto mais tempo a população fica sem
trabalhar, mais difícil é a volta ao mercado de trabalho. Quando acaba de
perder um emprego a pessoa tem os contatos próximos e a facilidade de se
realocar é mais rápida. Quanto mais tempo fica fora, vai perdendo produtividade
e deixando de saber o que tem de inovação na profissão. Fica cada vez mais
difícil a pessoa voltar e ela vai ficando obsoleta”, observou.
Pandemia
Para a pesquisadora, não é possível dizer que essa situação
ruim do mercado de trabalho é só culpa da pandemia, porque já não estava tão
bem. “A gente estava começando a melhorar, mas, quando veio a pandemia, ainda
estava com taxa de desemprego alta, de desalento alto. A pandemia piora uma
situação que já não era boa. Tanto que, quando a gente começa a olhar a
ocupação voltando, está voltando ao nível pré-pandemia e não é uma situação que
era confortável naquele momento. Ainda que esteja voltando para aquilo que era
antes da pandemia, não é suficiente para dizer que a gente está com um mercado
de trabalho razoavelmente bom”, especificou.
Perspectivas
De acordo com Maria Andréia, a expectativa é que o mercado
de trabalho continue melhorando, com crescimento na ocupação, mas ainda com
emprego informal. “O que vai puxar a economia nos próximos meses são os
serviços e eles são intensivos em mão de obra informal. A gente vai continuar
vendo a melhora da ocupação, mas ainda muito em cima da informalidade. Ainda
que os dados do Caged, de fato, tenham mostrado um cenário melhor para o emprego
formal, eles mostram, por exemplo, que a gente já superou o contingente de
trabalhadores do mercado formal do início da pandemia, mas a PNAD ainda não.
Pela PNAD, a gente ainda vai ver o mercado de trabalho puxado pela ocupação
informal, com uma taxa de desemprego desacelerando lentamente”, avaliou.
Na visão da pesquisadora, se o auxílio emergencial, que tem
previsão de terminar em outubro, não for prorrogado, sem essa renda os
beneficiários terão que voltar ao mercado de trabalho, voltando a pressionar os
indicadores. Isso só será diluído caso a criação de vagas seja superior ao
número de pessoas que vão tentar voltar ao mercado de trabalho com o fim do
benefício. Segundo ela, é isso que está ocorrendo atualmente, com o país
conseguindo gerar mais vagas do que a quantidade da população que está voltando
para o mercado.
“Por isso, a desocupação está caindo, mas está caindo muito
pouquinho e vai continuar nesse ritmo de queda bem suave por conta dessa
pressão da força de trabalho dessas pessoas que vão voltar para o mercado de
trabalho. O ritmo de criação de emprego tem que ser muito maior, porque tem que
gerar vaga para tirar quem hoje já está desocupado e para também abarcar essas
pessoas que estão saindo da inatividade e chegando no mercado de trabalho na
condição de desempregado”, disse.
Auxílio emergencial
Segundo Maria Andréia, se houver a manutenção do auxílio
emergencial isso pode gerar alguma descompressão na População Economicamente
Ativa (PEA). “Ainda assim vai ter uma PEA crescendo, só que de uma maneira um
pouco mais suave, e a volta ao mercado de trabalho pode ser adiada por dois ou
três meses, lembrando que mesmo que reduza, a gente ainda vai ter uma taxa de
desemprego alta, porque ainda tem um contingente de trabalhadores
desempregados, um emprego informal sem nenhum tipo de proteção e não está
contribuindo para a Previdência”, afirmou, acrescentando que o emprego informal
acaba refletindo no consumo, porque o trabalhador nesta condição não vai
arriscar para fazer a compra, por exemplo, de bens de consumo duráveis.
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