Brasil
sentirá impactos econômicos da pandemia até 2050, diz pesquisa
Se mortes
tivessem sido evitadas, impactos seriam menores
Publicado em
29/10/2021 - 17:48 Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Os impactos
sociais e emocionais da pandemia de covid-19 são amplamente conhecidos,
divulgados e podem ser sentidos mais corriqueiramente. Mas qual a repercussão
na economia das milhares de vidas perdidas? Pesquisadores da Rede Clima
integraram dados epidemiológicos a um modelo econômico e identificaram que os
impactos econômicos das mortes na pandemia no Brasil poderão ser observados até
2050.
“Uma pessoa
que faleceu aos 50 anos teria pelo menos mais 25 anos, provavelmente, de idade
econômica ativa, mais um período de aposentadoria. Toda essa renda futura foi
perdida”, aponta o coordenador do grupo, Edson Domingues, da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse
sentido, ele acrescenta que também há perdas em domicílios com morte de
aposentados. “No Brasil, há vários grupos familiares que dependem dessa renda”.
Na modelagem
econômica utilizada, o total de mortes causadas pela covid-19 foram
determinantes para entender os efeitos sobre a economia. Quando o modelo foi
rodado, o Brasil tinha cerca de 400 mil mortes. Hoje, o total ultrapassa 607
mil. Foram utilizados ainda dados sobre rendimento médio da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad). A análise envolveu ainda parâmetros médios de
expectativa de vida, por região e grupos etários.
Em 2050,
segundo as projeções da pesquisa, os impactos mais expressivos sobre o Produto
Interno Bruto (PIB) no longo prazo poderão ser percebidos no Amazonas (-1,38%)
e no Acre (-1,35%). Em seguida estão Rondônia (-1,2%) e Roraima (-1,1%). Por
outro lado, alguns estados conseguirão se recuperar mais rapidamente no longo
prazo: Pará (0,34%), Tocantins (0,28%), Piauí (0,14%), Maranhão (0,12%), Minas
Gerais (0,09%) e Espírito Santo (0,03%).
“A pandemia
teve impacto, obviamente, de curto prazo, com o fechamento do comércio, da
indústria, de serviços, a perda dos deslocamentos, perdeu-se produção e emprego
nos anos de 2020 e 2021. Isso é notório. Mas esse impacto de longo prazo, das
fatalidades, é uma coisa pouco falada e muito pouco estudada”, explica o
professor da UFMG.
Ele destaca
que a análise permite entender que, se mortes tivessem sido evitadas, os
impactos econômicos de longo prazo seriam reduzidos.
Domingues
aponta ações que poderiam amenizar os efeitos econômicos a longo prazo.
“Diversos infectologista já mostraram que se você tivesse uma coordenação efetiva, a nível federal, das políticas de restrição à atividade econômica de combate à pandemia, por exemplo, distribuição de máscaras, apoio aos estados na área hospitalar, um enfrentamento mais efetivo e coordenado nacionalmente das políticas de combate à pandemia teríamos menos mortes e menor impacto de longo prazo”, analisa o pesquisador.
Os
pesquisadores se preparam para rodar novamente o modelo econômico, considerando
o maior volume de mortes que, hoje, ultrapassam 607 mil. “É quase 50% a mais do
que a gente estimou de fatalidades. Esse impacto em longo prazo vai ser
efetivamente bastante maior”, aponta Domingues.
Ele destaca
que também será feita a análise por unidade da Federação. “Tivemos estados
muito mais impactados do que outros, então a gente espera que esses números
revelem uma figura mais adequada do longo prazo.”
Os trabalhos
da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima)
foram coordenados por pesquisadores da UFMG e da Universidade de São Paulo
(USP) e foram financiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e
pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A Agência
Brasil solicitou posicionamento do Ministério da Saúde, mas não houve retorno
até a publicação da reportagem.
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