Terça-feira,
30 de maio de 1893.
Eu
gosto muito de todas as festas de Diamantina; mas quando são na igreja do
Rosário, que é quase pegada à chácara de vovó, eu gosto ainda mais. Até parece
que a festa é nossa. E este ano foi mesmo. Foi sorteada para rainha do Rosário
uma ex-escrava de vovó chamada Júlia e para rei um negro muito entusiasmado que
eu não conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há muito tempo ajuntando dinheiro
para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou devendo. Agora é que
eu vi como fica caro para os pobres dos negros serem reis por um dia. Júlia com
o vestido e a coroa já gastou muito. Além disso, teve de dar um jantar para a
corte toda. A rainha tem uma caudatária que vai atrás segurando na capa que tem
uma grande cauda. Esta também é negra da chácara e ajudou no jantar. Eu acho
graça é no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Ninguém rejeita o cargo,
mesmo sabendo a despesa que dá!
(MORLEY,
Helena. Minha vida de menina. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 57)
O
trecho acima apresenta marcas textuais que justificam o emprego da linguagem
coloquial. O tom informal do discurso se deve ao fato de que se trata de:
A) uma
narrativa oral, em que a autora deve escrever como se estivesse falando para um
interlocutor, isto é, sem se preocupar com a norma padrão da língua portuguesa
e com referências exatas aos acontecimentos mencionados.
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