Texto
I
[...]
já foi o tempo em que via a convivência como viável, só exigindo deste bem
comum, piedosamente, o meu quinhão, já foi o tempo em que consentia num
contrato, deixando muitas coisas de fora sem ceder contudo no que me era vital,
já foi o tempo em que reconhecia a existência escandalosa de imaginados
valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’; mas não tive sequer o sopro
necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência
que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações,
é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio —
definitivamente fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba se reduzindo a um ponto
de vista, e você que vive paparicando as ciências humanas, sem suspeita que
paparica uma piada: impossível ordenar o mundo dos valores, ninguém arruma a
casa do capeta; me recuso pois a pensar naquilo em que não mais acredito, seja
o amor, a amizade, a família, a igreja, a humanidade; me lixo com tudo isso! me
apavora ainda a existência, mas não tenho medo de ficar sozinho, foi
conscientemente que escolhi o exílio, me bastando hoje o cinismo dos grandes
indiferentes [...].
(NASSAR,
R. Um copo de cólera. São Paulo: Companhia das Letras, 1992)
Texto
II
Raduan
Nassar lançou a novela Um Copo de Cólera em 1978, fervilhante narrativa de um
confronto verbal entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes se
estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o autoritário discurso do poder e
da submissão de um Brasil que vivia sob o jugo da ditadura militar.
(COMODO,
R. Um silêncio inquietante. IstoÉ. Disponível em: http://www.terra.com.br.
Acesso:15.07.09)
Considerando-se
os textos apresentados e o contexto político e social no qual foi produzida a
obra Um Copo de Cólera, verifica-se que o narrador, ao dirigir-se à sua
parceira, nessa novela, tece um discurso:
A)
conformista, que procura defender as instituições nas quais repousava a
autoridade do regime militar no Brasil, a saber: a Igreja, a família e o
Estado.
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