Ouvir
estrelas
“Ora,
(direis) ouvir estrelas! Certo
perdeste
o senso!” E eu vos direi, no entanto,
que,
para ouvi-las, muita vez desperto
e abro
as janelas, pálido de espanto...
E conversamos
toda noite, enquanto
a
Via-Láctea, como um pálio aberto,
cintila.
E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
inda
as procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: “Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas?” Que sentido
tem o
que dizem, quando estão contigo?”
E eu
vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois
só quem ama pode ter ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas”.
(BILAC,
Olavo. Ouvir estrelas. In: Tarde, 1919)
Ouvir
estrelas
Ora,
direis, ouvir estrelas! Vejo
que
estás beirando a maluquice extrema.
No
entanto o certo é que não perco o ensejo
De
ouvi-las nos programas de cinema.
Não
perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
que
mais eu gozo se escabroso é o tema.
Uma
boca de estrela dando beijo
é, meu
amigo, assunto p’ra um poema.
Direis
agora: Mas, enfim, meu caro,
As
estrelas que dizem? Que sentido
têm
suas frases de sabor tão raro?
Amigo,
aprende inglês para entendê-las,
Pois
só sabendo inglês se tem ouvido
Capaz
de ouvir e de entender estrelas.
(TIGRE,
Bastos. Ouvir estrelas. In: Becker, I. Humor e humorismo: Antologia. São Paulo:
Brasiliense, 1961)
A
partir da comparação entre os poemas, verifica-se que,
A) no
texto de Bilac, a construção do eixo temático se deu em linguagem denotativa,
enquanto no de Tigre, em linguagem conotativa.
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