TEXTO
I
Eles
se beijavam no elevador, nos corredores do prédio. Se amavam tanto, que o
vizinho solteirão da esquerda guardava por eles uma vermelha inveja. Uma tarde,
sem que ninguém soubesse por que, eles se enforcaram no banheiro. Houve muito
tumulto, carros da polícia parados em frente ao edifício, as equipes de TV.
O sol
caía sobre as marquises e a cabeça dos curiosos na rua. Um senhor dizia para
uma mulher passando ali:
— Eles
se suicidaram.
Uma
comerciária acrescentava:
—
Dizem que eles se gostavam muito.
— Que
coisa!
Enquanto
isso, o solteirão, na janela do seu apartamento, vendo todos lá embaixo, mordia
com sabor a carne acesa de uma enorme goiaba.
(FERNANDES,
R. O caçador. João Pessoa: UFPB, 1997)
TEXTO
II
Invejoso
O
carro do vizinho é muito mais possante
E
aquela mulher dele é tão interessante
Por
isso ele parece muito mais potente
Sua
casa foi pintada recentemente
E
quando encontra o seu colega de trabalho
Só
pensa em quanto deve ser o seu salário
Queria
ter a secretária do patrão
Mas
sua conta bancária já chegou ao chão
[...]
Invejoso
Querer
o que é dos outros é o seu gozo
E fica
remoendo até o osso
Mas
sua fruta só lhe dá o caroço
Invejoso
O bem
alheio é o seu desgosto
Queria
um palácio suntuoso
Mas
acabou no fundo desse poço...
(ANTUNES,
A. Iê Iê Iê. São Paulo: Rosa Celeste, 2009)
O
conto e a letra de canção abordam o mesmo tema, a inveja. Embora empreguem
recursos linguísticos diferentes, ambos lançam mão de um mecanismo em comum,
que consiste em:
A)
conferir à inveja aspectos humanos ao fazer dela personagem de narrativa.
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