Ó
meio-dia confuso,
ó
vinte-e-um de abril sinistro,
que
intrigas de ouro e de sonho
houve
em tua formação?
Quem
ordena, julga e pune?
Quem é
culpado e inocente?
Na
mesma cova do tempo
cai o
castigo e o perdão.
Morre
a tinta das sentenças
e o
sangue dos enforcados...
—
liras, espadas e cruzes
pura
cinza agora são.
Na
mesma cova, as palavras,
o
secreto pensamento,
as
coroas e os machados,
mentira
e verdade estão.
[...]
(MEIRELES,
C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Aguilar, 1972 - fragmento)
O
poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história
nacional, a Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário
e contexto histórico indica que a produção literária é sempre uma recriação da
realidade, mesmo quando faz referência a um fato histórico determinado. No
poema de Cecília Meireles, a recriação se concretiza por meio:
A) do
questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir
como forma poética desassociada da história nacional.
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