Mudança
Na
planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente
andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a
viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A
folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga
rala.
Arrastaram-se
para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o
baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio. As manchas dos juazeiros
tornaram a aparecer, Fabiano aligeirou o passo, esqueceu a fome, a canseira e
os ferimentos. Deixaram a margem do rio, acompanharam a cerca, subiram uma
ladeira, chegaram aos juazeiros. Fazia tempo que não viam sombra.
(RAMOS,
G. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2008)
Valendo-se
de uma narrativa que mantém o distanciamento na abordagem da realidade social
em questão, o texto expõe a condição de extrema carência dos personagens
acuados pela miséria. O recurso utilizado na construção dessa passagem, o qual
comprova a postura distanciada do narrador, é a:
A)
metaforização do espaço sertanejo, alinhada com o projeto de crítica social.
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