Transição energética é "demasiado lenta", alerta
agência
Instituição defende investimentos rápidos em energia limpa
Publicado em 13/10/2021 - 07:42 Por RTP - Lisboa
RTP - Rádio e Televisão de Portugal
A Agência Internacional de Energia (AIE) considerou hoje
(13) que o mundo vai sofrer com o aquecimento global, mas também com
"turbulências" no abastecimento energético, se não investir mais
rapidamente em energias limpas.
No relatório anual, publicado duas semanas antes da
abertura da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas
(COP26), em novembro, em Glasgow, na Escócia, a agência emitiu "avisos
sérios sobre a direção que o mundo está tomando".
Afirmando que surge nova economia no mercado da energia, a
agência lamentou que o progresso seja contrariado pela "resistência do
status quo e dos combustíveis fósseis", com o petróleo, gás e carvão
representando ainda 80% do consumo final de energia, responsáveis por três
quartos das alterações climáticas.
Atualmente, os compromissos climáticos dos governos, se
cumpridos, só permitirão atingir 20% das reduções de emissões de gases de
efeito estufa, necessárias para manter o aquecimento global sob controle até
2030.
"Os investimentos em projetos de energia
descarbonizada terão de triplicar nos próximos dez anos para se conseguir a
neutralidade de carbono até 2050", apontou o diretor da AIE, Fatih Birol.
"Se conseguirmos atingir a neutralidade de carbono até
2050, 2,2 milhões de mortes prematuras por poluição atmosférica poderão ser
evitadas até 2030, 40% menos do que atualmente. Em outros cenários, irão
aumentar", adverte o documento.
A AIE, que faz parte da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), apresentou três cenários para o futuro: o das
atuais políticas de redução de emissões efetivamente implementadas pelos
governos; o dos compromissos de redução assumidos; e o que permite atingir a
neutralidade de carbono em 2050, já tornado público pela AIE em maio.
No primeiro cenário - o mais pessimista - a temperatura
global aumentará 2,6 graus Celsius em 2100, em comparação com a era
pré-industrial; no segundo, 2,1 graus; e apenas no terceiro será limitada a 1,5
grau.
O terceiro cenário, atingindo a neutralidade de carbono até
2050, "exigirá grandes esforços, mas oferece benefícios consideráveis,
tanto para a saúde quanto para o desenvolvimento econômico", afirma a AIE.
A agência acredita que é necessário um aumento do
investimento de cerca de US$ 4 bilhões por ano até 2030 em projetos e
infraestruturas de energia limpa para atingir o objetivo da neutralidade de
carbono até 2050.
O financiamento adicional necessário para esse objetivo
"é menos oneroso do que parece", acrescentou. Segundo a AIE, 40% das
reduções das emissões "pagam-se", por meio da eficiência energética,
da luta contra as fugas de metano ou de parques solares ou eólicos.
A AIE disse ainda que o atual déficit de investimento afeta
não só o clima, mas também os preços e a oferta, garantindo
"turbulências" como as que o mundo sofre atualmente, com as tensões
sobre os combustíveis fósseis.
Nos últimos anos, a depreciação dos preços do petróleo e do
gás limitaram o investimento no setor, mas a transição para a energia limpa é
demasiado lenta para satisfazer a procura, considerou a agência
"Há um risco de turbulência crescente nos mercados
globais de energia", disse Birol. "Não estamos investindo o
suficiente para satisfazer necessidades futuras, e essas incertezas estão nos
preparando para um período volátil", disse.
"A forma de responder é clara: investir de forma
rápida e maciça em energia limpa" para satisfazer as necessidades, tanto a
curto quanto a longo prazo, acrescentou.
Caso contrário, "o risco de volatilidade
desestabilizadora tenderá a aumentar", afirma o relatório, que destaca a
importância de uma transição "acessível a todos os cidadãos".
"Está surgindo uma nova economia energética, com
potencial para criar milhões de empregos", disse Fatih Birol, que apelou
aos líderes que participarão da COP26 para "fazer a sua parte,
transformando a década de 2020 na de implantação maciça da energia
descarbonizada".
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