CIÊNCIAS
Ao
estudar Ciências, as pessoas aprendem a respeito de si mesmas, da diversidade e
dos processos de evolução e manutenção da vida, do mundo material – com os seus
recursos naturais, suas transformações e fontes de energia –, do nosso planeta
no Sistema Solar e no Universo e da aplicação dos conhecimentos científicos nas
várias esferas da vida humana. Essas aprendizagens, entre outras, possibilitam
que os alunos compreendam, expliquem e intervenham no mundo em que vivem.
Para
orientar a elaboração dos currículos de Ciências, as aprendizagens essenciais a
ser asseguradas neste componente curricular foram organizadas em três unidades
temáticas que se repetem ao longo de todo o Ensino Fundamental.
A unidade
temática Matéria e energia contempla o estudo de materiais e suas
transformações, fontes e tipos de energia utilizados na vida em geral, na
perspectiva de construir conhecimento sobre a natureza da matéria e os
diferentes usos da energia.
Dessa
maneira, nessa unidade estão envolvidos estudos referentes à ocorrência, à
utilização e ao processamento de recursos naturais e energéticos empregados na
geração de diferentes tipos de energia e na produção e no uso responsável de
materiais diversos. Discute-se, também, a perspectiva histórica da apropriação
humana desses recursos, com base, por exemplo, na identificação do uso de
materiais em diferentes ambientes e épocas e sua relação com a sociedade e a
tecnologia.
Nos anos
iniciais, as crianças já se envolvem com uma série de objetos, materiais e
fenômenos em sua vivência diária e na relação com o entorno. Tais experiências
são o ponto de partida para possibilitar a construção das primeiras noções
sobre os materiais, seus usos e suas propriedades, bem como sobre suas
interações com luz, som, calor, eletricidade e umidade, entre outros elementos.
Além de prever a construção coletiva de propostas de reciclagem e reutilização
de materiais, estimula-se ainda a construção de hábitos saudáveis e
sustentáveis por meio da discussão acerca dos riscos associados à integridade
física e à qualidade auditiva e visual. Espera-se também que os alunos possam
reconhecer a importância, por exemplo, da água, em seus diferentes estados,
para a agricultura, o clima, a conservação do solo, a geração de energia
elétrica, a qualidade do ar atmosférico e o equilíbrio dos ecossistemas.
Em
síntese, valorizam-se, nessa fase, os elementos mais concretos e os ambientes
que os cercam (casa, escola e bairro), oferecendo aos alunos a oportunidade de
interação, compreensão e ação no seu entorno.
Por sua
vez, nos anos finais, a ampliação da relação dos jovens com o ambiente
possibilita que se estenda a exploração dos fenômenos relacionados aos
materiais e à energia ao âmbito do sistema produtivo e ao seu impacto na
qualidade ambiental. Assim, o aprofundamento da temática dessa unidade, que
envolve inclusive a construção de modelos explicativos, deve possibilitar aos
estudantes fundamentar-se no conhecimento científico para, por exemplo, avaliar
vantagens e desvantagens da produção de produtos sintéticos a partir de
recursos naturais, da produção e do uso de determinados combustíveis, bem como
da produção, da transformação e da propagação de diferentes tipos de energia e
do funcionamento de artefatos e equipamentos que possibilitam novas formas de
interação com o ambiente, estimulando tanto a reflexão para hábitos mais
sustentáveis no uso dos recursos naturais e científico-tecnológicos quanto a
produção de novas tecnologias e o desenvolvimento de ações coletivas de
aproveitamento responsável dos recursos.
A unidade
temática Vida e evolução propõe o estudo de questões relacionadas aos seres
vivos (incluindo os seres humanos), suas características e necessidades, e a
vida como fenômeno natural e social, os elementos essenciais à sua manutenção e
à compreensão dos processos evolutivos que geram a diversidade de formas de
vida no planeta. Estudam-se características dos ecossistemas destacando-se as
interações dos seres vivos com outros seres vivos e com os fatores não vivos do
ambiente, com destaque para as interações que os seres humanos estabelecem
entre si e com os demais seres vivos e elementos não vivos do ambiente.
Abordam-se, ainda, a importância da preservação da biodiversidade e como ela se
distribui nos principais ecossistemas brasileiros.
Nos anos
iniciais, as características dos seres vivos são trabalhadas a partir das
ideias, representações, disposições emocionais e afetivas que os alunos trazem
para a escola. Esses saberes dos alunos vão sendo organizados a partir de
observações orientadas, com ênfase na compreensão dos seres vivos do entorno,
como também dos elos nutricionais que se estabelecem entre eles no ambiente
natural.
Nos anos
finais, a partir do reconhecimento das relações que ocorrem na natureza,
evidencia-se a participação do ser humano nas cadeias alimentares e como
elemento modificador do ambiente, seja evidenciando maneiras mais eficientes de
usar os recursos naturais sem desperdícios, seja discutindo as implicações do
consumo excessivo e descarte inadequado dos resíduos. Contempla-se, também, o
incentivo à proposição e adoção de alternativas individuais e coletivas, ancoradas
na aplicação do conhecimento científico, que concorram para a sustentabilidade
socioambiental. Assim, busca-se promover e incentivar uma convivência em maior
sintonia com o ambiente, por meio do uso inteligente e responsável dos recursos
naturais, para que estes se recomponham no presente e se mantenham no futuro.
Outro
foco dessa unidade é a percepção de que o corpo humano é um todo dinâmico e
articulado, e que a manutenção e o funcionamento harmonioso desse conjunto
dependem da integração entre as funções específicas desempenhadas pelos
diferentes sistemas que o compõem. Além disso, destacam-se aspectos relativos à
saúde, compreendida não somente como um estado de equilíbrio dinâmico do corpo,
mas como um bem da coletividade, abrindo espaço para discutir o que é preciso
para promover a saúde individual e coletiva, inclusive no âmbito das políticas
públicas.
Nos anos
iniciais, pretende-se que, em continuidade às abordagens na Educação Infantil,
as crianças ampliem os seus conhecimentos e apreço pelo seu corpo, identifiquem
os cuidados necessários para a manutenção da saúde e integridade do organismo e
desenvolvam atitudes de respeito e acolhimento pelas diferenças individuais,
tanto no que diz respeito à diversidade étnico-cultural quanto em relação à inclusão
de alunos da educação especial.
Nos anos
finais, são abordados também temas relacionados à reprodução e à sexualidade
humana, assuntos de grande interesse e relevância social nessa faixa etária,
assim como são relevantes, também, o conhecimento das condições de saúde, do
saneamento básico, da qualidade do ar e das condições nutricionais da população
brasileira.
Pretende-se
que os estudantes, ao terminarem o Ensino Fundamental, estejam aptos a
compreender a organização e o funcionamento de seu corpo, assim como a
interpretar as modificações físicas e emocionais que acompanham a adolescência
e a reconhecer o impacto que elas podem ter na autoestima e na segurança de seu
próprio corpo. É também fundamental que tenham condições de assumir o
protagonismo na escolha de posicionamentos que representem autocuidado com seu
corpo e respeito com o corpo do outro, na perspectiva do cuidado integral à
saúde física, mental, sexual e reprodutiva. Além disso, os estudantes devem ser
capazes de compreender o papel do Estado e das políticas públicas (campanhas de
vacinação, programas de atendimento à saúde da família e da comunidade,
investimento em pesquisa, campanhas de esclarecimento sobre doenças e vetores, entre
outros) no desenvolvimento de condições propícias à saúde.
Na
unidade temática Terra e Universo, busca-se a compreensão de características da
Terra, do Sol, da Lua e de outros corpos celestes – suas dimensões, composição,
localizações, movimentos e forças que atuam entre eles. Ampliam-se experiências
de observação do céu, do planeta Terra, particularmente das zonas habitadas pelo
ser humano e demais seres vivos, bem como de observação dos principais
fenômenos celestes. Além disso, ao salientar que a construção dos conhecimentos
sobre a Terra e o céu se deu de diferentes formas em distintas culturas ao
longo da história da humanidade, explora-se a riqueza envolvida nesses
conhecimentos, o que permite, entre outras coisas, maior valorização de outras formas
de conceber o mundo, como os conhecimentos próprios dos povos indígenas
originários.
Assim, ao
abranger com maior detalhe características importantes para a manutenção da
vida na Terra, como o efeito estufa e a camada de ozônio, espera-se que os
estudantes possam compreender também alguns fenômenos naturais como vulcões,
tsunamis e terremotos, bem como aqueles mais relacionados aos padrões de
circulação atmosférica e oceânica e ao aquecimento desigual causado pela forma
e pelos movimentos da Terra, em uma perspectiva de maior ampliação de
conhecimentos relativos à evolução da vida e do planeta, ao clima e à previsão
do tempo, entre outros fenômenos.
Os
estudantes dos anos iniciais se interessam com facilidade pelos objetos
celestes, muito por conta da exploração e valorização dessa temática pelos
meios de comunicação, brinquedos, desenhos animados e livros infantis. Dessa
forma, a intenção é aguçar ainda mais a curiosidade das crianças pelos
fenômenos naturais e desenvolver o pensamento espacial a partir das
experiências cotidianas de observação do céu e dos fenômenos a elas
relacionados. A sistematização dessas observações e o uso adequado dos sistemas
de referência permitem a identificação de fenômenos e regularidades que deram à
humanidade, em diferentes culturas, maior autonomia na regulação da
agricultura, na conquista de novos espaços, na construção de calendários etc.
Nos anos
finais, há uma ênfase no estudo de solo, ciclos biogeoquímicos, esferas terrestres
e interior do planeta, clima e seus efeitos sobre a vida na Terra, no intuito
de que os estudantes possam desenvolver uma visão mais sistêmica do planeta com
base em princípios de sustentabilidade socioambiental.
Além
disso, o conhecimento espacial é ampliado e aprofundado por meio da articulação
entre os conhecimentos e as experiências de observação vivenciadas nos anos
iniciais, por um lado, e os modelos explicativos desenvolvidos pela ciência,
por outro. Dessa forma, privilegia-se, com base em modelos, a explicação de
vários fenômenos envolvendo os astros Terra, Lua e Sol, de modo a fundamentar a
compreensão da controvérsia histórica entre as visões geocêntrica e
heliocêntrica.
A partir
de uma compreensão mais aprofundada da Terra, do Sol e de sua evolução, da
nossa galáxia e das ordens de grandeza envolvidas, espera-se que os alunos
possam refletir sobre a posição da Terra e da espécie humana no Universo.
Essas
três unidades temáticas devem ser consideradas sob a perspectiva da
continuidade das aprendizagens e da integração com seus objetos de conhecimento
ao longo dos anos de escolarização.
Portanto,
é fundamental que elas não se desenvolvam isoladamente. Essa integração se
evidencia quando temas importantes como a sustentabilidade socioambiental, o
ambiente, a saúde e a tecnologia são desenvolvidos nas três unidades temáticas.
Por exemplo, para que o estudante compreenda saúde de forma abrangente, e não relacionada
apenas ao seu próprio corpo, é necessário que ele seja estimulado a pensar em
saneamento básico, geração de energia, impactos ambientais, além da ideia de
que medicamentos são substâncias sintéticas que atuam no funcionamento do
organismo.
De forma
similar, a compreensão do que seja sustentabilidade pressupõe que os alunos,
além de entenderem a importância da biodiversidade para a manutenção dos
ecossistemas e do equilíbrio dinâmico socioambiental, sejam capazes de avaliar
hábitos de consumo que envolvam recursos naturais e artificiais e identifiquem
relações dos processos atmosféricos, geológicos, celestes e sociais com as
condições necessárias para a manutenção da vida no planeta.
Impossível
pensar em uma educação científica contemporânea sem reconhecer os múltiplos
papéis da tecnologia no desenvolvimento da sociedade humana. A investigação de
materiais para usos tecnológicos, a aplicação de instrumentos óticos na saúde e
na observação do céu, a produção de material sintético e seus usos, as
aplicações das fontes de energia e suas aplicações e, até mesmo, o uso da radiação
eletromagnética para diagnóstico e tratamento médico, entre outras situações,
são exemplos de como ciência e tecnologia, por um lado, viabilizam a melhoria
da qualidade de vida humana, mas, por outro, ampliam as desigualdades sociais e
a degradação do ambiente. Dessa forma, é importante salientar os múltiplos
papéis desempenhados pela relação ciência-tecnologia-sociedade na vida moderna
e na vida do planeta Terra como elementos centrais no posicionamento e na
tomada de decisões frente aos desafios éticos, culturais, políticos e
socioambientais.
As
unidades temáticas estão estruturadas em um conjunto de habilidades cuja
complexidade cresce progressivamente ao longo dos anos. Essas habilidades
mobilizam conhecimentos conceituais, linguagens e alguns dos principais
processos, práticas e procedimentos de investigação envolvidos na dinâmica da
construção de conhecimentos na ciência.
Assim,
quando é utilizado um determinado verbo em uma habilidade, como “apresentar” ou
“relatar”, este se refere a procedimentos comuns da ciência, neste caso
relacionados à comunicação, que envolvem também outras etapas do processo
investigativo. A ideia implícita está em relatar de forma sistemática o
resultado de uma coleta de dados e/ou apresentar a organização e extrapolação
de conclusões, de tal forma a considerar os contra-argumentos apresentados, no
caso de um debate, por exemplo.
Da mesma
forma, quando é utilizado o verbo “observar”, tem-se em mente o aguçamento da
curiosidade dos alunos sobre o mundo, em busca de questões que possibilitem
elaborar hipóteses e construir explicações sobre a realidade que os cerca.
Cumpre
destacar que os critérios de organização das habilidades na BNCC (com a
explicitação dos objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do
agrupamento desses objetos em unidades temáticas) expressam um arranjo possível
(dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser tomados como
modelo obrigatório para o desenho dos currículos.
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