Calor extremo pode afetar 1 bilhão de pessoas se temperatura subir 2°C
Alerta é feito por especialistas que participam da COP26
Publicado em 09/11/2021 - 08:34 Por RTP - Glasgow (Escócia)
RTP - Rádio e Televisão de Portugal
Pelo menos 1 bilhão de pessoas serão afetadas pelo calor extremo se as
temperaturas globais aumentarem 2ºC, alertaram os especialistas na Conferência
das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26). Se não formos capazes
de evitar que o aquecimento do planeta exceda os 1,5ºC, o número de pessoas que
serão expostas a estresse térmico extremo – uma combinação potencialmente fatal
de calor e umidade – pode aumentar até 15 vezes, comparativamente aos dias de
hoje.
"O número de pessoas que vivem em áreas afetadas por estresse térmico
extremo aumenta de 68 milhões hoje para cerca de 1 bilhão", diz estudo
publicado no Met Office e divulgado na COP26.
O principal objetivo da cúpula climática, que ocorre em Glasgow, no
Reino Unido, é conseguir limitar o aquecimento global a 1,5ºC, mas os delegados
têm advertido de que "há muito trabalho" ainda a ser feito para
alcançar essa meta.
Um aumento de 4ºC, alerta ainda o estudo, "pode fazer com que quase
metade da população mundial viva em áreas potencialmente afetadas".
O estresse térmico é definido como uma temperatura global do chamado
bulbo úmido (padrão internacional para medir o estresse de calor a que as
pessoas são sujeitas) acima dos 32ºC, uma medida que avalia a combinação de
fatores como a temperatura, a umidade, a velocidade do vento e a radiação
solar. Quando essa medida atinge os 35ºC, o corpo humano não consegue arrefecer
com o suor e até as pessoas saudáveis que estejam à sombra podem morrer em
apenas seis horas.
Nessas condições, as pessoas sujeitas a esse estresse térmico extremo
podem sofrer com exaustão pelo calor e com sintomas que incluem sudorese
intensa e pulso acelerado, o que por sua vez pode sobrecarregar o coração e
outros órgãos, levando à falência do organismo.
"Acima desse nível, as pessoas passam a estar em risco extremo. Os
membros vulneráveis da população e quem tiver trabalhos físicos ao ar livre
corre maior risco de efeitos adversos à saúde. Atualmente, a métrica é usada em
vários locais, como regiões da Índia, mas a nossa análise mostra que com um
aumento de 4ºC, o risco de calor extremo pode afetar pessoas em grandes áreas
da maioria dos continentes do mundo", explicou no documento Andy Hartley,
líder de Impactos Climáticos do Met Office.
O calor é o impacto mais óbvio do aquecimento global, estando o calor extremo em várias regiões do mundo a triplicar nas últimas décadas. No verão de 2020, mais de um quarto da população dos Estados Unidos, por exemplo, sofreram os efeitos do calor extremo, com sintomas que incluíam náuseas e cólicas. Pelo menos 166 mil pessoas morreram devido a ondas de calor nas duas décadas até 2017, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
O estudo do Met Office baseou-se na pesquisa do projeto Helix,
financiado pela União Europeia, que também mapeia os riscos crescentes de
inundações, incêndios florestais, secas e insegurança alimentar. De acordo com
essa análise, praticamente todo o mundo habitado é afetado por, pelo menos, um
desses impactos.
"A nova análise combinada mostra a urgência de limitar o
aquecimento global bem abaixo dos 2°C. Quanto maior for o aquecimento, mais
graves e generalizados são os riscos para a vida das pessoas. Mas ainda é
possível evitar esses riscos mais elevados se agirmos agora", afirmou
Richard Betts, MBE da Universidade de Exeter e do Met Office, que liderou o
projeto Helix.
Os países tropicais, incluindo o Brasil, a Etiópia e a Índia, são os
mais atingidos pelo estresse extremo de calor, com algumas regiões atingindo
temperaturas para lá do limite da capacidade humana. Albert Klein Tank, diretor
do Met Office Hadley Center, alertou que essa pesquisa demonstra que são várias
as regiões do mundo onde se prevê que ocorram os impactos mais graves.
"No entanto, espera-se que todas as regiões do mundo - incluindo o
Reino Unido e a Europa - sofram impactos contínuos das mudanças
climáticas", acrescentou.
Qualquer um desses impactos climáticos, afirmou Andy Wiltshire, chefe do
Sistema Terrestre e Ciência da Mitigação, "apresenta uma visão assustadora
do futuro". Mas, as alterações climáticas "severas causarão muitos
impactos, e os nossos mapas mostram que algumas regiões vão ser afetadas por
vários fatores".
Por isso, segundo ele, é urgente que sejam reduzidas rapidamente as
emissões poluentes. "Se quisermos evitar as piores consequências das
alterações climáticas não mitigadas".
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