Escassez de
semicondutores deve continuar até metade de 2022
Avaliação é
de especialistas do setor
Publicado em
15/11/2021 - 09:40 Por Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil - São Paulo
A escassez de
semicondutores que começou com a pandemia de covid-19 seguirá como um problema
para a indústria e para os consumidores pelo menos até a metade de 2022,
encarecendo produtos eletroeletrônicos. A avaliação é da associação de
representantes do setor e de especialistas no setor automotivo, um dos que
sofreram impacto pela falta de componentes para circuitos elétricos.
O presidente
da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), Rogério
Nunes, disse que a demanda de produtos de Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC) aumentou com a pandemia, surpreendendo o setor de
semicondutores que havia sido impactado pela interrupção de várias cadeias
produtivas. “Esse setor de semicondutores é lento no retorno à produção. Ele
demora alguns meses em função da sua característica de manufatura”, explicou.
O presidente
da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz
Carlos Moraes, afirmou, em entrevista coletiva no último dia 8 sobre os
resultados do setor, que a retração das vendas em outubro é reflexo das
dificuldades enfrentadas pela indústria, como a falta de componentes, em escassez
mundial. “O ano de 2022 continuará sendo de grandes desafios na entrega de
semicondutores ao setor automotivo”, disse na ocasião.
“Fala-se entre
5 milhões e 7,5 milhões de carros não produzidos este ano no mundo. São 250 mil
a 280 mil no Brasil em função disso, mas outros setores também já começaram a
ser afetados - a partir desses últimos meses, a área de TICs, celulares”,
observou Nunes. Para ele, a redução da oferta de celulares pode chegar a 10%,
“principalmente em função do desabastecimento porque a demanda continua
relativamente alta”.
“Não só a
indústria automobilística, mas a indústria em geral teve muita dificuldade para
implementar as normas de segurança, até todo mundo entender o que estava
acontecendo”, lembrou Renan Pieri, economista da Escola de Administração de
Empresas de São Paulo (Eaesp), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele reforça
que o setor de semicondutores tem certa inflexibilidade para se adequar à
demanda. “A perspectiva é de regularização apenas no segundo semestre do ano que
vem”.
Sobre as
possibilidade de mitigação do problema, Pieri disse que a maior cooperação
entre o próprio setor poderia ter amenizado o problema. “O que deveria ou
poderia ter sido feito era uma coordenação entre as empresas da cadeia, todos
os produtores, tanto de semicondutores como os demandantes, com o objetivo de
criar medidas de cooperação, para que todo mundo conseguisse passar da melhor
maneira possível pela crise”.
“Esse tipo de
coordenação, no entanto, já que estamos falando de empresas ao redor do mundo
inteiro, é muito difícil”, admite. Nunes, por sua vez, destacou dois fatores
que devem ser levados em conta para analisar o atual quadro de escassez: a
mudança tecnológica, que é inerente ao mercado, e questões contextuais e
imprevisíveis, como a pandemia de covid-19. Essas questões, no entanto, lidam
com fatores relacionados ao próprio setor.
“Temos uma
excessiva concentração de manufatura desses produtos semicondutores na Ásia.
Por exemplo, um país como Taiwan produz 43% de tudo que é o wafer [disco de
silício] no mundo. A Coreia tem outros 21%, praticamente dominando 70% do que
há de memórias no mundo”, acrescenta. Ele disse que outros países, como os
Estados Unidos, começam a lançar incentivos para atrair manufatura. O mesmo,
segundo ele, ocorre na Europa.
Disco de
silício
Nunes explicou
por que os semicondutores são tão importantes nas cadeias produtivas de
eletroeletrônicos. “Eles são aplicados em todos os produtos que usam tecnologia
eletrônica, então todos os produtos hoje da nossa vida utilizam. Praticamente
tudo. Desde a área médica, agrobusiness, tecnologia da informação,
computadores, celulares”, enumera.
Esses
componentes eletrônicos são o que conhecemos mais comumente como chips. “Chips
são, na verdade, uma pastilha de silício, um pequeno pedaço de silício que, na
verdade, é um produto enriquecido a partir da areia. Com esse item
semicondutor, nós fazemos a construção de um circuito elétrico, circuito
integrado, encapsulamos esse circuito integrado para que ele possa ser usado nas
placas eletroeletrônicas”, acrescentou.
0 Comentários