Mais de 11 mil
migrantes são detidos na Bielorrússia neste ano
Cerca de 5 mil
foram deportados
Publicado em
25/11/2021 - 10:29 Por RTP - Moscou
RTP - Rádio e
Televisão de Portugal
Desde o início
de 2021 foram detidos mais de 11,5 mil migrantes na Bielorrússia, e cerca de 5
mil foram deportados. Os números foram divulgados pela agência russa RIA, no
mesmo dia em que a organização não governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW)
divulga relatório sobre a crise na fronteira entre a Polônia e Bielorrússia. A
ONG adiantou que pelo menos 13 pessoas morreram e pediu uma intervenção mais
humana por parte de Varsóvia e Bruxelas.
De acordo com
o chefe do Conselho de Segurança da Bielorrússia, Alexander Volfovich, um voo
de repatriamento, que deveria ter partido na quinta-feira (25) para o Iraque,
acabou por não acontecendo. Estes 200 migrantes que iriam fazer esta viagem de
regresso estão retidos no aeroporto, acrescenta a agência.
A Bielorrússia
adianta que tem operado vários voos de repatriamento nas últimas duas semanas
como resposta à pressão da União Europeia, que já anunciou novas sanções contra
o regime do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko,
Também na
quinta-feira, a Human Rights Watch publicou um novo relatório sobre a situação
na fronteira entre a Polônia e Bielorrússia, local de difícil acesso para
jornalistas e organizações não governamentais ao longo dos últimos meses. A
organização adianta que pelo menos 13 migrantes morreram nas últimas semanas,
incluindo um bebê sírio de um ano.
Morrer aqui ou
ir para a Polônia a responsabilidade partilhada de Bielorrússia e Polônia pelos
abusos na fronteira, é o documento onde se relatam violações graves dos
Direitos Humanos de ambos os lados da fronteira. A HRW esteve nos dois países
durante o mês de outubro de 2021 e fez entrevistas com 19 pessoas, incluindo
homens e mulheres que viajavam sozinhos e famílias com filhos.
A crise
migratória das últimas semanas entre Bielorrússia e Polônia é resultado de uma
questão que se arrasta há vários meses, desde o sequestro de um voo da Ryanair
para detenção de um passageiro por parte do regime de Misnk. O aparelho fazia a
ligação entre duas capitais europeias em maio de 2021 e foi desviado para a detenção
do jornalista, considerado opositor do regime.
Em resposta ao
sequestro, a União Europeia desencadeou novos mecanismos sancionatórios contra
a Bielorrússia, a que Minsk respondeu por sua vez, abrindo as fronteiras do
país e facilitando os vistos a migrantes e refugiados que são posteriormente
incentivados a entrar na Polônia, Lituânia e Letônia por via terrestre. Diante
de renovadas sanções, Alexander Lukashenko recuou e tem procurado devolver os
migrantes aos locais de origem que chegaram ao país.
“Enquanto a
Bielorrússia fabricou esta crise sem ter em conta as consequências humanas, a
Polônia partilha responsabilidades pelo grande sofrimento na zona da fronteira.
Homens, mulheres e crianças têm sido atirados de um lado para o outro na
fronteira, durante dias e semanas num clima glacial, precisando
desesperadamente de ajuda humanitária e está para ser bloqueada de ambos os
lados”, refere Lydia Gall, investigadora da HRW para a Ásia e Europa.
A organização
não governamental dá o exemplo de um homem de 35 anos, vindo da República
Democrática do Congo com a mulher e três filhos, todos com menos de 7 anos, que
diz ter sido expulso por guardas polacos em outubro sem qualquer possibilidade
de pedir asilo.
“Disseram-me
que não há asilo, não há nada, volta de onde vieste. Pegaram em nós e
fizeram-nos regressar à Bielorrússia, à zona neutra”, conta.
Em resposta a
estas acusações, Varsóvia nega que tenha havido pushbacks de migrantes, ou
seja, pessoas retiradas sem que seja dada oportunidade de apresentar um
eventual pedido de asilo. No entanto, uma alteração recente à legislação polaca
prevê que os guardas fronteiriços podem devolver de imediato migrantes que
atravessam indevidamente a fronteira.
Até 16 de novembro de 2021, houve pelo menos 29.921 pushbacks na fronteira polaca, denuncia a Human Rights Watch.
Também a
Bielorrússia é claramente acusada de maus-tratos a estes migrantes, que ficam
“detidos e sem alimento, água ou abrigo, impedidos de voltar a Minsk ou aos
seus próprios países”. A Human Rights Watch critica à União Europeia por não
ter falado publicamente das responsabilidades polacas nesta crise humanitária.
“A Comissão
Europeia deve mostrar solidariedade com as vítimas na fronteira que estão
sofrendo e morrendo de ambos os lados. A Bielorrússia pode ter orquestrado a
crise, mas isso não isenta a Polônia e as instituições da União Europeia das
suas obrigações em matéria de Direitos Humanos. Bruxelas deve pressionar
Varsóvia para dar prioridade à preservação da vida humana na resposta a esta
crise”, considera Lydia Gall.
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