Mercado imobiliário tem redução de 9,5% nas vendas no 3º
trimestre
Aumento no custo dos insumos impactou os negócios
Publicado em 22/11/2021 - 15:57 Por Andreia Verdélio –
Repórter da Agência Brasil - Brasília
O aumento no custo dos insumos da construção civil e a
queda no poder de compra das famílias impactaram os números do mercado
imobiliário no país e as vendas de imóveis novos tiveram queda de 9,5% no
terceiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. Em
relação ao segundo trimestre de 2021, a queda foi de 11,2%.
Os dados são da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC) que apresentou hoje (22) os Indicadores Imobiliários
Nacionais, estudo que traz informações sobre lançamentos, vendas, oferta final,
preço, além da participação do programa Casa Verde e Amarela no setor. A
pesquisa foi realizada em 162 cidade, sendo 20 capitais.
No acumulado do ano, entretanto, houve aumento de 22,6% nas
vendas, se comparado com o período de janeiro a setembro de 2020. “O primeiro
semestre já nos deu um gás e o ano vai fechar bom, mas o terceiro trimestre
mostra queda muito forte nas vendas”, disse o presidente da CBIC, José Carlos
Martins, durante coletiva virtual para apresentar os dados.
Segundo ele, a inflação de materiais e máquinas, pelo
Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado pela Fundação Getulio
Vargas (FGV), já passa de 30% no período de pandemia e os custos não foram
repassados totalmente aos compradores, ou seja, ainda há margem para aumento no
preço dos imóveis.
Ele explica que a falta de poder aquisitivo das famílias
está segurando esse aumento, já que a inflação geral já chega a 10%, “mas não
quer dizer que não vá acontecer mais na frente”.
"A grande esperança é que temos o contínuo interesse na aquisição, as famílias estão querendo imóveis, elas continuam com apetite”, destacou.
Apesar dos bons números no acumulado do ano, Martins alerta
que os custos dos insumos podem continuar afetando o setor, consequentemente na
geração de empregos. “O emprego de hoje é a venda de ontem. Vamos fechar o ano
com contratação de 360 mil a 400 mil novos empregos porque vendemos muito bem
nos primeiros nove meses”, disse. “O emprego de amanhã depende da venda de hoje
e ela caiu quase 10%, então temos que ter muito cuidado para não termos uma
situação delicada no próximo ano”, ressaltou.
Em relação aos lançamentos, houve crescimento de 13,6% no
terceiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020. Em comparação ao
trimestre anterior, o aumento foi de 7%. No acumulado do ano, a alta foi de
37,6% nos lançamentos, frente ao resultado de janeiro a setembro do ano
passado.
Segundo a CBIC, muitos empreendedores seguraram os
lançamentos no ano passado em razão da pandemia e, com a melhora na situação
sanitária, estão retomando os negócios. Com isso, o setor está chegando a um
equilíbrio entre o volume de lançamentos e vendas.
Casa Verde e Amarela
Com o aumento do custo de produção e da inflação que afeta
o poder de compra das famílias, o presidente da CBIC cita ainda a queda da
participação no setor do Casa Verde e Amarela, programa do governo que subsidia
a compra da casa própria por famílias de baixa renda. O programa, que chegou a
representar quase 60% dos lançamentos e vendas no setor, hoje ocupa a faixa de
40% dos lançamentos e 47% das vendas nas cidades pesquisadas.
“O que é um paradoxo”, disse o presidente da CBIC. “[Na
faixa de renda] onde está 90% do déficit habitacional, você tem uma redução de
participação de mercado”, destacou. Inclusive, o impacto foi maior nas regiões
Norte e Nordeste.
Houve queda no programa tanto em lançamentos quanto em
vendas, se comparado ao segundo trimestre de 2021 e também ao terceiro
trimestre de 2020, bem como nos lançamentos no acumulado dos nove meses do ano,
frente ao mesmo período de 2020. As reduções variaram de 10,7% a 19,9%. Apenas
nas vendas acumuladas de janeiro a setembro houve crescimento, de 10,4%, em
relação ao acumulado do período no ano passado.
Segundo Martins, o impacto do aumento dos insumos é maior
nos imóveis populares. “O preço dos imóveis não cabe no orçamento das famílias.
A inflação corrói a renda delas, o bem fica mais caro e elas ficam duplamente
prejudicadas na aquisição”, disse. “Isso não acontece com imóveis de maior
valor. A família pode optar por um imóvel menor, ir para uma localização não
tão nobre, há opções, o que não acontece com imóvel para renda menor”,
explicou.
Da mesma maneira, outros mercados suportam o aumento do preço das unidades e as construtoras têm mais margens para fazer adequações e viabilizar os lançamentos dos projetos.
Além disso, havia dúvida dos empreendedores sobre os
subsídios do governo ao programa. Segundo a CBIC, a resposta do governo federal
para adequação do programa habitacional, com adequação da curva de descontos e
o aumento dos limites máximos de preço, deverá surtir efeito a partir do quarto
trimestre de 2021.
Intenção de compra
O estudo da CBIC apresentou, ainda, números sobre a
intenção de compra de imóveis da população. De acordo com o levantamento, a
intenção caiu 7% no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior e 39%
dos entrevistados demonstraram interesse em adquirir um imóvel no prazo de até
três anos.
Antes da pandemia de covid-19, a intenção de compra estava
em 43% e chegou a cair para 20% no pior momento da crise sanitária, em abril do
ano passado.
Entre os fatores que podem afetar a decisão de compra, o
aumento inflação foi apontado por 45% dos entrevistados, seguido pelo cenário
político complicado (31%) e a preocupação com o desemprego (24%). O aumento das
taxas de juros, o baixo crescimento econômico do país e a pandemia de covid-19
também foram razões citadas pelas 1,2 mil pessoas entrevistadas.
A pesquisa é co-realizada pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (Senai), em parceria com a Brain Inteligência Estratégica.
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