Pandemia: estudo relaciona falta de sono à alta da
obesidade infantil
Colégio e vida ao ar livre foram trocados por celular e
ensino remoto
Publicado em 20/11/2021 - 10:15 Por Flávia Albuquerque –
Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade da
Pensilvânia, nos Estados Unidos (EUA), mostrou que 15,4% das crianças atendidas
em 29 clínicas ligadas ao Hospital Infantil da Filadélfia, no período da
pandemia de covid-19, estavam obesos. Em 2019, o percentual era de 13,7%.
O aumento ocorreu em todas as faixas etárias, variando de
1% nos adolescentes de 13 a 17 anos a 2,6% nas crianças de 5 a 9 anos. Foi
medido o índice de massa corporal (IMC) de 169.179 crianças e adolescentes
atendidos de junho a dezembro de 2019 e comparado ao dos 145.081 pacientes
consultados no mesmo período em 2020.
Outro estudo, coordenado pelo Pennington Biomedial Research
Center, também nos EUA, mostrou que, a cada hora adicional de sono em crianças
de 3 a 5 anos, houve redução de 0,48 do IMC. Além do consumo excessivo de
alimentos calóricos e do sedentarismo, a duração do sono é um fator de risco
para a obesidade infantil. Com base nesses dados, o Instituto do Sono faz um
alerta aos brasileiros, já que também no país o confinamento e a suspensão das
aulas presenciais por causa da pandemia agravaram a obesidade infantil.
Segundo o médico Gustavo Moreira, pesquisador do Instituto
do Sono, o aumento da obesidade entre crianças que dormem menos é o resultado
de uma combinação de fatores. “Teoricamente, se você está acordado, está
gastando mais energia, mas, na realidade, o tempo a mais que as pessoas passam
acordadas, elas estão em frente a uma tela grande ou pequena, em atividades de
pouco gasto energético, em mídia social, videogame, streaming, estudando. As
pessoas estão fazendo menos exercício e têm uma oferta calórica maior entre os
alimentos”, disse Moreira.
Outro fator é que, se o indivíduo está dormindo menos, no
caso das crianças e adolescentes, o organismo entende que é pouco e que a
pessoa está em uma situação de stress. “Temos dois hormônios que controlam
nosso apetite: a lepitina, que é o hormônio da saciedade, e a grelina, que é o
da fome. Quando durmo menos, produzo menos lepitina e mais grelina, ou seja,
aumenta meu apetite, e a tendência é a de comer mais sem oportunidade de
gasto”, explicou o médico.
Moreira lembrou que a pandemia contribuiu para o crescimento da obesidade porque alterou a rotina das crianças que, para ter uma vida saudável, precisam de uma alimentação balanceada, exercícios e gasto de energia. Porém, para evitar a contaminação pelo coronavírus, as crianças foram obrigadas a trocar as atividades ao ar livre por jogos no celular e as aulas no colégio pelo ensino remoto.
“Quando ficam muito tempo na frente das telas, as crianças
comem várias vezes ao dia, principalmente bolachas, salgadinhos e doces. E a
grande exposição às telas leva os pequenos a dormir mais tarde e acordar cedo”,
afirmou o médico.
As recomendações dos especialistas para evitar a obesidade
infantil incluem a manutenção de uma alimentação regular, com horários para
todas as refeições da família; a preferência por alimentos naturais frente aos
industrializados, como os enlatados e empacotados; e a observação da pirâmide
alimentar, composta por oito grupos de alimentos essenciais para a saúde
(carboidratos, verduras e legumes, frutas, leites e derivados, carnes e ovos, leguminosas
e oleaginosas, óleos e gorduras e açúcares e doces).
É preciso ainda que os pais deem o exemplo, já que adultos
que seguem uma dieta balanceada influenciam os filhos a se alimentar de forma
saudável; estabelecendo uma rotina para a criança, com horários bem definidos
para dormir, acordar, brincar e estudar; reduzir o tempo de tela e aumentar as
atividades ao ar livre, levando os filhos para brincar em locais abertos.
Sono dos adultos
A crise sanitária também afetou a qualidade do sono dos
adultos. Segundo uma pesquisa do Instituto do Sono, entre os 1.600
participantes do levantamento, 75% atribuíram a piora do sono ao aumento das
preocupações; 64% à permanência por mais tempo em frente a telas de computador,
televisão e celular; e 54% ao fato de ficarem em casa de forma mais prolongada.
Ao abordar a qualidade de sono, o estudo revela que 67% dos
participantes tiveram mais dificuldade para dormir; 61,6% passaram a dormir
mais tarde; e 59% acordaram mais vezes durante a noite.
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