Poluição: Nova Delhi fecha escolas por tempo
indeterminado
Capital indiana é considerada uma das cidades
mais poluídas do mundo
Publicado em 17/11/2021 - 08:31 Por Andreia Martins -
Repórter da RTP - Nova Delhi
RTP - Rádio e Televisão de Portugal
A capital da Índia é considerada uma das cidades mais
poluídas do mundo e entrou, nesta quarta-feira (17), em um confinamento parcial
inédito para proteger os cidadãos da neblina tóxica. As escolas e universidades
estão fechadas por tempo indeterminado, há uma recomendação de teletrabalho e
estão proibidos de circular os caminhões que transportam mercadorias não
essenciais.
As autoridades de Nova Delhi decretaram o fechamento de
escolas e universidades por tempo indeterminado devido ao agravamento dos
níveis de poluição do ar. Os trabalhos de construção na cidade também estão
proibidos pelo menos até 21 de novembro, com exceção de projetos relacionados a
transportes e defesa.
Com cerca de 20 milhões de habitantes, a capital indiana
tem registrado nevoeiros tóxicos, sobretudo durante o inverno. A Comissão para
a Gestão de Qualidade do Ar determinou que cerca de metade dos funcionários
públicos trabalhem de casa e incentivou as empresas privadas a fazerem o mesmo.
Paralelamente, apenas cinco das 11 centrais a carvão da
cidade estão autorizadas a prosseguir os trabalhos, e os caminhões que transportam
bens não essenciais estão impedidos de entrar na capital.
No último sábado (13), diante do denso nevoeiro de poluição
na cidade, as autoridades já tinham decretado o fechamento das escolas por
quatro dias, mas uma nova ordem, emitida hoje, indica que os estabelecimentos
de ensino devem continuar fechados até novas avaliações.
Os níveis de poluição aumentaram recentemente devido a um
conjunto de fatores, como acontece todos os anos na cidade, nesta época: a
atividade das centrais a carvão às portas da cidade, a poluição dos veículos,
atividades de construção ou queima de lixo a céu aberto ajudam a explicar os
novos índices.
O ar torna-se especialmente tóxico nos meses de inverno,
com a queima de restos das colheitas e os fogos de artifício durante o festival
tradicional de Diwali.
Trata-se de um problema crônico para a Índia, que este ano
enfrenta níveis de poluição especialmente graves. O Supremo Tribunal do país
determinou que os governos estaduais e federais tomem medidas urgentes para
enfrentar os elevados níveis de poluição.
Nesta semana, os níveis de PM2,5 – partículas menores, mais
perigosas porque podem entrar na corrente sanguínea – estão acima de 400 em
várias áreas da cidade. Na semana passada, foi atingido um novo máximo de 500,
muito acima do limite máximo recomendado. A Organização Mundial da Saúde
estabelece como “bom” um valor dessas partículas no ar abaixo de 50 e como
“satisfatório”, abaixo de 100.
Ao entrarem na corrente sanguínea, por meio da inalação dos
pulmões, as PM2,5 podem causar doenças cardiorrespiratórias graves. De acordo
com um relatório da Lancet, citado pela Al Jazeera, quase 17,5 mil pessoas
morreram em Nova Delhi em 2019 devido aos níveis de poluição do ar.
“Todos os anos, com a aproximação do inverno, há uma
sensação de déjà vu para nós, que vivemos em Nova Delhi. O céu da manhã fica
com uma cor cinza sinistra, queixamo-nos do nariz entupido e coceira nos olhos,
os hospitais começam a encher-se de pessoas com respiração ofegante. Os que,
entre nós, conseguem, correm para comprar purificadores de ar caros. O simples
ato de respirar em Delhi torna-se perigoso”, afirma Geeta Pandey, jornalista da
BBC na Índia. “Por favor, encontrem uma solução”, pede.
Também sob um manto de neblina tóxica, na cidade de Lahore,
no Paquistão, os habitantes pedem ação urgente ao governo.
A cidade, localizada na província de Punjab, junto à
fronteira com a Índia, tem registrado recordes de poluição. “As crianças sofrem
com problemas respiratórios. Por favor, encontrem uma solução”, disse Muhammad
Saeed, um trabalhador da cidade.
Nos últimos anos, tal como na Índia, a poluição torna-se
cada vez mais denso a cada inverno. Lahore, com mais de 11 milhões de
habitantes, é frequentemente classificada como uma das cidades com os piores
níveis de polução do ar no mundo.
Os habitantes construíram, nos últimos anos, os seus
próprios purificadores de ar e têm pressionado o governo a agir. Islamabad
culpa a Índia pela situação ou responde que os valores de poluição relatados
pelas organizações internacionais são exagerados.
“Só podemos implorar para que controlem a poluição. Não sou
uma pessoa alfabetizada, mas li que a cidade de Lahore tem a pior qualidade do
ar, e logo depois vem Nova Delhi. Se isso continuar assim, vamos morrer.
Antigamente, fazia caminhadas com os meus filhos, mas agora já não os trago
comigo”, afirma Saeed.
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