Famigerado
Com
arranco, [o sertanejo] calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de
evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava.
Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu:
aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia
esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.
O que
frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão,
travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de
aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos
e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava.
E, pá:
—
Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é:
fasmisgerado... faz-me-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?
(ROSA,
J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988)
A
linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar de
destaque na literatura brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a
personagem e o narrador se estabelece porque:
A) o
narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta
de seu interlocutor.
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