O peru
de Natal
O
nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco
meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós
sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da
felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves
dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu
pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado
no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto
pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de
geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o
puro-sangue dos desmancha-prazeres.
(ANDRADE,
M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo:
Objetiva, 2000)
No
fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em
primeira pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por:
A)
distanciamento de estados de espírito acentuado pelo papel das gerações.
B)
relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna.
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