Apuram
o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ruminam outros mil e mais
bois. Mas os vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda
tem passagens inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo
dentro da multidão movediça há giros estranhos, que não os deslocamentos
normais do gado em marcha – quando sempre alguns disputam a colocação na
vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam levar, empurrados,
sobrenadando quase, com os mais fracos rolando para os lados e os mais pesados
tardando para trás, no coice da procissão.
— Eh,
boi lá!... Eh-ê-ê-eh, boi!... Tou! Tou! Tou...
As
ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as
caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de
guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres
imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do
sertão...
“Um
boi preto, um boi pintado,
cada
um tem sua cor.
Cada
coração um jeito
de
mostrar o seu amor.”
Boi
bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...
Dança
doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito...
Vai,
vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
(ROSA,
J. G. O burrinho pedrês. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1968)
Próximo
do homem e do sertão mineiro, Guimarães Rosa criou um estilo que ressignifica
esses elementos. O fragmento expressa a peculiaridade desse estilo narrativo,
pois:
A)
demonstra a preocupação do narrador com a verossimilhança.
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