Pecados,
vagância de pecados. Mas, a gente estava com Deus? Jagunço podia? Jagunço –
criatura paga para crimes, impondo o sofrer no quieto arruado dos outros, matando
e roupilhando. Que podia? Esmo disso, disso, queri, por pura toleima; que
sensata resposta podia me assentar o Jõe, broreiro peludo do Riachão do
Jequitinhonha? Que podia? A gente, nós, assim jagunços, se estava em permissão
de fé para esperar de Deus perdão de proteção? Perguntei, quente.
—
"Uai? Nós vive... — foi o respondido que ele me deu.
(ROSA,
G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001)
Guimarães
Rosa destaca-se pela inovação da linguagem com marcas dos falares populares e
regionais. Constrói seu vocabulário a partir de arcaísmos e da intervenção nos
campos sintático-semânticos. Em Grande sertão: veredas, seu livro mais
marcante, faz o enredo girar em torno de Riobaldo, que tece a história de sua
vida e sua interlocução com o mundo-sertão. No fragmento em referência, o
narrador faz uso da linguagem para revelar:
A) inquietação
por desconhecer se os jagunços podem ou não ser protegidos por Deus.
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