Em
todas as datas cívicas a máquina é agora uma parte importante das festividades.
Você se lembra que antigamente os feriados eram comemorados no coreto ou no
campo de futebol, mas hoje tudo se passa ao pé da máquina. Em tempo de eleição
todos os candidatos querem fazer seus comícios à sombra dela, e como isso não é
possível, alguém tem de sobrar, nem todos se conformam e sempre surgem
conflitos. Felizmente a máquina ainda não foi danificada nesses esparramos, e
espero que não seja. A única pessoa que ainda não rendeu homenagem à máquina é
o vigário, mas você sabe como ele é ranzinza, e hoje mais ainda, com a idade.
Em todo caso, ainda não tentou nada contra ela, e ai dele. Enquanto ficar nas
censuras veladas, vamos tolerando; é um direito que ele tem.
(VEIGA,
J. J. A máquina extraviada. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros
do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000)
A
presença do inusitado ou do fantástico na vida cotidiana é frequente na obra de
José J. Veiga. No fragmento, a situação de singularidade experimentada pelas
personagens constrói-se a partir do:
A)
afastamento da religião tradicional.
E)
conflito entre diferentes classes sociais.
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