Em
1866, tendo encerrado seus estudos na Escola de Belas Artes, em Paris, Pedro
Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador Pedro II, em reconhecimento ao
seu mecenas. O nu feminino obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser
uma alegoria feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por
imoral e licenciosa: mesmo não fugindo à regra oitocentista relativa à nudez na
obra de arte, A Carioca não pôde, portanto, ser absorvida de imediato. A
sensualidade tangível da figura feminina, próxima do orientalismo tão em voga
na Europa, confrontou-se não somente com os limites morais, mas também com a
orientação estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal
ou um nu tão descolado do que se desejava como nudez nacional aceitável, por
exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A Carioca oferecia um corpo
simultaneamente ideal e obsceno: o alto - uma beleza imaterial - e o baixo -
uma carnalidade excessiva. Sugeria uma mistura de estilos que, sem romper com a
regra do decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório
simbólico oficial. A exótica morena, que não é índia - nem mulata ou negra -
poderia representar uma visualidade feminina brasileira e desfrutar de um lugar
de destaque no imaginário da nossa "monarquia tropical"?
O
texto revela que a aceitação da representação do belo na obra de arte está
condicionada à:
A)
incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, conferindo
legitimidade ao trabalho do artista.
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