Vei, a
Sol
Ora o pássaro
careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu.
Já era de madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio. Macunaíma acordou
tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para
vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a
correntinha encantada de prata que indica pro escolhido, tesouro de holandês.
Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas.
Então
passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver
pediu pra ela que o carregasse pro céu.
Caiuanogue
foi se chegando porém o herói fedia muito.
— Vá
tomar banho! — ela fez. E foi-se embora.
Assim
nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a
certos imigrantes europeus.
(ANDRADE,
M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008)
O
fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro
Macunaíma, de Mário de Andrade, pertencente à primeira fase do Modernismo
brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível
identificar:
A)
resquícios do discurso naturalista usado pelos escritores do século XIX.
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