O
negócio
Grande
sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de
pão e banana:
— Como
é o negócio?
De
cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa:
— Deus
me livre, não! Hoje não...
Abílio
interpelou a velha:
— Como
é o negócio?
Ela
concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona
Julietinha foi assim. Ele se chegou:
— Como
é o negócio?
Ela
sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a
cerca. Sinal combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o
quintal, cuidadosa para não acordar os filhos. Ele trazia a capa de viagem,
estendida na grama orvalhada.
O
vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No
crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não
era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu:
— Como
é o negócio?
Diante
da recusa, ele ameaçou:
—
Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!
(TREVISAN,
D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979)
Quanto
à abordagem do tema e aos recursos expressivos, essa crônica tem um caráter:
A)
filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos vizinhos.
0 Comentários