Lições
de motim
DONA
COTINHA – É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o
solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta da solidão não é um
solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá profundo da alma.)
Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser
valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é
mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se
para o homem.) É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que
é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM
TORNA A SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DIS-CURSO E VOLTA A LHE DAR AS COSTAS,
COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu
ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não
inquilinos, me entende? Quem é inquilino da solidão não passa de um abandonado.
É isso ai.
(ZORZETFI,
H. Lições de motim. Goiânia: Kelps. 10)
Nesse
trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral?
A) O tom
melancólico presente na cena.
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