Retrato
do artista quando coisa
A
menina apareceu grávida de um gavião. Veio falou para a mãe: o gavião me
desmoçou. A mãe disse: Você vai parir uma árvore para a gente comer goiaba
nela. E comeram goiaba. Naquele tempo de dantes não havia limites para ser. Se
a gente encostava em ser ave ganhava o poder de alçar. Se a gente falasse a
partir de um córrego a gente pegava murmúrios. Não havia comportamento de
estar. Urubus conversavam sobre auroras. Pessoas viravam árvore. Pedras viravam
rouxinóis. Depois veio a ordem das coisas e as pedras têm que rolar seu destino
de pedra para o resto dos tempos. Só as palavras não foram castigadas com a
ordem natural das coisas. As palavras continuam com seus deslimites.
(BARROS,
M. Retrato do Artista Quando Coisa. Rio de Janeiro: Record, 1998)
No
poema, observam-se os itens lexicais desmoçou e deslimites. O mecanismo
linguístico que os originou corresponde ao processo de:
A)
estrangeirismo, que significa a inserção de palavras de outras comunidades
idiomáticas no português.
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