Cidade de
Goiás celebra hoje 20 anos do título de Patrimônio Mundial
A partir
das 6h, vilaboenses ouviram alvorada com desfile militar
Publicado em
14/12/2021 - 09:49 Por Agência Brasil - Brasília
Às margens
do Rio Vermelho, na histórica Cidade de Goiás (GO), a 140 km de Goiânia e a 320
km de Brasília, Ana Luísa Guimarães, de 87 anos, realizou nesta semana um sonho
de vida. Ela e a família, que vivem em Anápolis (GO), visitaram o “mundo”, a
cidade, a rua e a casa onde viveu uma célebre xará, a escritora Anna Lins dos
Guimarães Peixoto, conhecida como Cora Coralina. Ana Luísa fez a viagem por
ocasião da celebração dos 20 anos do título de Patrimônio Mundial para a
primeira capital de Goiás, município que foi formado como passagem do ciclo do
ouro.
De 14 a 16
de dezembro de 2001, a cidade entrou em festa quando recebeu a notícia direto
de Helsinque (Finlândia), da 25ª Conferência da Unesco, que o local passaria a
ser Patrimônio Cultural Mundial. Vinte anos depois, a população vilaboense (o
adjetivo remonta às origens do lugar Vila Boa de Goiás) de cerca de 25 mil
pessoas recorda, com celebrações a partir desta terça (14), a novidade, o
legado e a responsabilidade que o título ocasionou.
A partir das
6h, a cidade ouviu uma alvorada com desfile militar e civis pelas ruas do sítio
histórico. A partir das 11h, outro evento de homenagens ocorre no Santuário do
Rosário, para recordar o título. A celebração feita pelo Instituto Biapó (que
se destina a preservar a memória do lugar) e o Museu Casa de Cora Coralina tem
apelo musical.
No dia
anterior à festa, o afinador de piano Julio Soares Dias, de 55 anos, cuidava de
cada detalhe para que todas as notas ecoassem sem qualquer problema. Com um
diapasão (peça em formato de forquilha), ele sincroniza o som. “Nesta cidade,
tem 19 pianos. As pessoas aqui amam a arte. É muito gratificante poder
colaborar de alguma forma”. Na hora do evento, ele assiste atento às
apresentações. “Sou como um mecânico de Fórmula 1 que fica pronto para qualquer
eventualidade”.
Para o
coordenador do Instituto Biapó, o produtor cultural PX Silveira, os moradores
da cidade estão imersos em um cenário em que é necessário preservar a cultura.
"Poetas, músicos e produtores anônimos veem-se realmente como parte dessa
conquista".
À noite será
oportunidade de conferir a iluminação para 10 locais turísticos e históricos
para dar visibilidade a esses marcos. Ainda nesta terça começa também o
Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), com 65 trabalhos (a
serem exibidos presencialmente e também pela internet). A mostra é exibida até
o dia 19.
A cidade
respira o momento. A ponte que leva ao Museu de Cora Coralina foi pintada e
iluminada. Donos das casas abriram as portas para que os visitantes conheçam
por dentro. Trabalhadores cuidam para cortar e limpar o mato. Entre eles, João
Conceição, de 56 anos, que atua na capinagem. Além do serviço, o que faz os
olhos dele brilharem mesmo é quando fala das suas atividades de artista: ele
atua como farricoco no fogaréu da Semana Santa, dança a congada e a catira.
“Faz parte da nossa alma atuar”, diz. Emocionado, lamenta que os piores
momentos da pandemia tiraram dele a chance de estrelar.
Quem vive na
Cidade de Goiás sabe que o dossiê que elevou o patamar do local teve pilares na
cultura, arquitetura e no meio ambiente. “O casario é famoso, mas o grande
patrimônio está nas pessoas daqui”, diz a secretária de cultura, Raíssa
Coutinho.
Para o
secretário de Turismo, Rodrigo Santana, as ações que eliminaram os garimpos na
década de 1980 e a sensibilização para as áreas de proteção ambiental nas
serras que emolduram a cidade, foram fundamentais para a conquista do título.
“O desafio agora é cuidar para que a cidade seja protegida. Antes da pandemia,
eram cerca de 500 mil visitantes por ano. “Estamos retomando as atividades”.
Para os gestores municipais, é necessário formar os cidadãos a partir da escola
para que tenham o sentido de pertencimento.
No festival
de cinema, esse pertencimento estará iluminado na tela com filmes também de
diretores locais. O pesquisador em geografia João Dorneles, de 24 anos, exibe
na quarta, em um curta, a história da formação de um espaço quilombola em A rua
do chupa osso, no século 18. “É o nosso lugar. Precisamos contar nossas
histórias”.
A professora
de Direito Silvana Beline, de 56 anos, filmou, em documentário, a história de
uma trabalhadora camponesa (Rosângela Piovesani) atuante que se tornou
universitária. O filme "Primavera Púrpura tem 72 minutos. “É uma
responsabilidade muito grande trazer a história dela. Mas me deixa muito feliz.
Aqui pulsa a arte”, garante.
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