Nasa entra na coroa solar pela primeira vez
Experiência contribui para novas descobertas da
ciência
Publicado em 15/12/2021 - 10:48 Por Carla Quirino -
Repórter da RTP - Washington
Reuters
A sonda espacial Parker Solar Probe, da Nasa, a agência
espacial norte-americana, voou na atmosfera superior do Sol e captou amostras
de partículas e campos magnéticos. Ao tocar a matéria de que o Sol é feito,
Parker contribui para novas descobertas da ciência solar.
"A sonda solar Parker tocando o Sol é um momento
monumental para a ciência solar e um feito verdadeiramente notável", afirmou
Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretório de Missões Científicas
na sede da Nasa, em Washington.
"Esse marco, não só nos fornece percepções mais
aprofundadas sobre a evolução do Sol e seus impactos no sistema solar, como
também tudo o que aprendemos sobre a nossa própria estrela - ensina-nos mais
sobre outras estrelas no resto do universo", acrescentou.
Foi durante a oitava aproximação da sonda, em 28 de abril,
que Parker voou pela primeira vez pela coroa solar. Essa camada apresenta campos
magnéticos muito fortes que dominam o movimento das partículas elétricas. De
acordo com os cientistas, demorou alguns meses para se obter os dados
registrados pela sonda e mais alguns meses para confirmá-los.
Mais perto do que nunca
Quanto mais perto a sonda solar viajar pela atmosfera da
estrela, mais a ciência espacial fará descobertas sobre as explosões solares.
Uma das investigações passa por analisar o vento solar.
Esse fluxo de partículas do Sol pode influenciar a Terra e em 2019, a sonda
Parker já tinha registrado que estruturas magnéticas em zigue-zague no vento
solar eram abundantes perto do Sol.
Continua, porém, desconhecido como e onde esses fluxos
magnéticos se formavam.
Como o Sol carece de uma superfície sólida, ao contrário da
Terra, só mergulhando na área magneticamente intensa é que se pode encontrar
respostas
A estrela tem uma atmosfera superaquecida, feita de
material solar que se liga entre si pela gravidade e forças magnéticas.
Ao reduzir à metade a distância ao Sol, pela primeira vez
na história do estudo solar, a circulação da sonda Parker permitiu estar perto
o suficiente para identificar onde se originam os ventos: a superfície solar.
"Voando tão perto do Sol, a sonda solar Parker agora
detecta detalhes na camada magnética da atmosfera solar - a coroa - que nunca
podíamos antes" disse Nour Raouafi, cientista do projeto Parker no
Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins em Laurel, Maryland.
"Por estarmos na coroa, conseguimos obter evidências
em dados de campo magnético, dados do vento solar e visualmente em imagens. Na
verdade, podemos ver a nave espacial a voar por meio de estruturas da coroa que
podem ser observadas durante um eclipse solar total" explicou Raouafi.
A sonda estava a cerca de 13 quilômetros acima da
superfície do Sol quando cruzou pela primeira vez o ponto conhecido por
superfície crítica de Alfvén, que corresponde à transição entre a atmosfera
solar e o vento solar. Nessa área, a nave atravessou para dentro e para fora da
coroa pelo menos três vezes.
Durante a passagem pela coroa, a nave circulou por
estruturas chamadas serpentinas da coroa. Essas estruturas podem ser vistas
como correntes brilhantes.
Essa perspectiva só foi possível porque a nave voou acima e
abaixo das serpentinas, dentro da coroa. Até agora, as serpentinas só tinham
sido vistas de longe. Normalmente, essas linhas ondulantes de luz são visíveis
da Terra durante eclipses solares totais.
O tamanho da coroa também depende da atividade solar. À medida
que o ciclo de atividade do Sol de 11 anos - o ciclo solar - aumenta, a borda
externa da coroa expande-se, dando à Parker Solar Probe maior possibilidade de
permanecer dentro da corona por longos períodos de tempo, sustentaram os
cientistas.
"É uma região realmente importante para entrar, porque
achamos que todos os tipos de física podem ser lá ativados", disse Justin
Kasper , investigador e professor da Universidade de Michigan. "É muito
empolgante que já tenhamos alcançado. E agora, que estamos entrando nessa
região, com sorte começaremos a ver alguns desses fenômeno físicos".
Obter pistas sobre os zigue-zagues luminosos e outros
mistérios solares permitirão aos cientistas "o vislumbre de uma região que
é crítica para superaquecer a coroa e empurrar o vento solar a velocidades
supersônicas". Essas medições da coroa serão importantes "para a
compreensão e previsão de eventos climáticos espaciais extremos que podem
interromper as telecomunicações e danificar satélites ao redor da Terra"
argumenta a comunidade científica.
Esta primeira passagem pela coroa solar, que durou apenas
algumas horas, é uma das muitas missões planeadas para a sonda Parker, que já
investiga a estrela desde 2018.
Em janeiro de 2022, os cientistas esperam ver a sonda
viajar cada vez mais perto do Sol.
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