ONG pede investigação sobre
crimes de guerra no Afeganistão
Pedido foi feito pela
secretária-geral da organização, Agnés Callamard
Publicado em 15/12/2021 - 07:32 Por RTP -
Londres
RTP - Rádio e Televisão de Portugal
A Amnistia Internacional (AI) pediu hoje
(15) uma investigação sobre crimes de guerra cometidos pelos talibãs e a morte
de civis pelas forças de segurança afegãs e tropas norte-americanas, sobretudo
durante os combates antes da queda de Cabul.
"Os meses que antecederam o colapso
do governo de Cabul (15 de agosto de 2021) estiveram marcados por repetidos crimes
de guerra e um constante derramamento de sangue cometidos pelos talibãs, assim
como por mortes causadas pelas forças afegãs e norte-americanas", disse a
secretária-geral da Amnistia Internacional (AI), Agnés Callamard, em
comunicado.
A organização de defesa dos direitos
humanos, com sede em Londres, diz, em relatório, que "à medida que os
fundamentalistas (talibãs) foram assumindo o controle do país, torturaram e
mataram membros de minorias étnicas e religiosas, antigos membros das forças de
segurança e simpatizantes do governo afegão".
A AI informa que no dia 6 de setembro
(após a queda de Cabul), os talibãs capturaram e mantiveram em cativeiro
durante dois dias cerca de 20 homens, numa ofensiva na província de Panjashir,
sem qualquer tipo de assistência, alimentos ou água.
De acordo com a organização, seis pessoas
foram executadas pelos talibãs no mesmo dia, durante confronto para capturar
antigos colaboradores do governo deposto.
As testemunhas que falaram à Amnistia
Internacional disseram que as pessoas abatidas no local não eram membros das
forças de segurança afegãs.
O comunicado cita ainda os acontecimentos
do dia 29 de agosto, quando ocorreu um ataque com drones, feito pelos Estados
Unidos e que matou dez pessoas, incluindo sete crianças, em Cabul.
Mais 12 pessoas morreram e 15 ficaram
feridas em consequência de oito tiros dados pelo Exército Nacional Afegão, no
mesmo dia, também na capital.
O uso de armas de combate em áreas
povoadas por civis é "indiscriminado" e pode constituir "crime
de guerra", acusa a Amnistia Internacional.
A secretária-geral da organização pediu
que o Tribunal Penal Internacional investigue os atos cometidos pelos militares
dos Estados Unidos e do Afeganistão "para que sejam apurados possíveis
crimes de guerra".
"O povo afegão já sofreu demasiado, e as vítimas devem ter acesso à Justiça e receber indenizações", disse Agnés Callamard.
A organização pede aos talibãs e aos
Estados Unidos que cumpram as obrigações e estabeleçam mecanismos claros e
sólidos para que os civis possam solicitar ajudas pelos danos sofridos durante
o conflito.
"As autoridades talibãs têm agora a
mesma obrigação legal de proporcionar reparações e devem abordar com seriedade
todas as questões relacionadas com danos a civis", concluiu Callamard.
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