QUESTÃO
SOBRE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO – LITERATURA ENEM 2018.2
Vez
por outra, indo devolver um filme na locadora ou almoçar no árabe da rua de
baixo, dobro uma esquina e tomo um susto. Ué, cadê o quarteirão que estava
aqui? Onde na véspera havia casinhas geminadas, roseiras cuidadas por velhotas
e janelas de adolescentes, cheias de adesivos, há apenas uma imensa cratera,
cercada de tapumes. [...]
Em
breve, do buraco brotará um prédio, com grandes garagens e minúsculas varandas,
e será batizado de Arizona Hills, ou Maison Lacroix, ou Plaza de Marbella, e
isso me entristece. Não só porque ficará mais feio meu caminho até a locadora,
ou até o árabe na rua de baixo, mas porque é meu bairro que morre, devagarinho.
Os bairros, como os homens, também têm um espírito. [...]
Às
vezes, no fim da tarde, quando ouço o sino da igreja da Caiubi badalar seis
vezes, quase acredito que estou numa cidade do interior. Aí saio para devolver
os vídeos, olho para o lado, percebo que o quarteirão desapareceu e me dou
conta de que estou em São Paulo, e que eu mesmo tenho minha cota de
responsabilidade: moro no segundo andar de um prédio. [...] Ali embaixo, onde
agora fica a garagem, já houve uma cratera, e antes dela o jardim de uma
velhota e a janela de um adolescente, cheia de adesivos.
(PRATA,
A. Perdizes. In: Meio intelectual, meio de esquerda. São Paulo: Editora 34,
2010)
Na
crônica, a incidência do contexto social sobre a voz narrativa manifesta-se
no(a):
A)
decepção com o progresso da cidade de São Paulo.
D)
necessidade de uma autocrítica em relação aos próprios hábitos.
0 Comentários