QUESTÃO
SOBRE A OBRA DE CLARICE LISPECTOR – LITERATURA ENEM 2018.2
Ela
parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E
ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou:
—
Repita o que você disse, Lóri.
— Não
sei mais.
— Mas
eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com
sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa,
mas seremos um só.
— Sim.
Lóri
estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu
vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal,
como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava
docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço
dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia,
como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está
começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro
a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos
prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e
preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o
perigo.
(LISPECTOR,
C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1990)
A obra
de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas
soluções narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade
fundamenta-se no:
A)
desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso.
D)
discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos.
0 Comentários