Tenho
visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos
preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca
e engolem tudo.
Eu não
sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a
ser-me favorável nas seguintes.
Depois
da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do
ponto em que estava no tempo de Salustiano Padilha. Houve reclamações.
—
Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto.
E quem não gostar, paciência, vá à justiça. Como a justiça era cara, não foram
à justiça.
E eu,
o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos
Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr.
Magalhães, juiz.
Violências
miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro,
graças às chicanas de João Nogueira.
Efetuei
transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção
aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a
pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma
estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois artigos, chamou-me
patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na
Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe político local. Em consequência
mordeu-me cem mil réis.
(RAMOS,
G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990)
O
trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório,
narrador-personagem, sobre a expansão de suas terras. De acordo com esse
relato, o processo de prosperidade que o beneficiou evidencia que ele:
A)
revela-se um empreendedor capitalista pragmático que busca o êxito em suas
realizações a qualquer custo, ignorando princípios éticos e valores
humanitários.
B)
procura adequar sua atividade produtiva e função de empresário às regras do
Estado democrático de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da
sociedade.
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