Fotografia tirada da usina nuclear a partir de helicóptero um dia após a explosão do reator. |
Acidente de Chernobyl
Em 26 de abril de 1986,
ocorreu o desastre de Chernobyl, considerado o pior acidente da história da
energia nuclear comercial. A explosão do reator liberou uma quantidade
significativa de resíduos tóxicos, afetando vastas áreas da Bielorrússia,
Ucrânia e Rússia. Cerca de 5% do material do núcleo do reator Chernobyl foi
liberado de forma inadequada pelos engenheiros da usina, resultando na morte
imediata de dois trabalhadores e em envenenamento de outros 28 que faleceram
nas semanas subsequentes.
Pouco tempo após o
acidente, 237 pessoas foram diagnosticadas com contaminação por iodo
radioativo, sendo confirmados 134 casos. A exposição à radiação afetou a
população das áreas afetadas e centenas de casos de câncer de tireoide foram
registrados. Com o objetivo de evitar novos casos, o governo soviético
transferiu 120 mil pessoas nas primeiras horas após o desastre e mais 240 mil
nos anos seguintes.
O Complexo Energético de
Chernobyl é composto por quatro reatores nucleares e está localizado a 130
quilômetros ao norte de Kiev, na Ucrânia, e cerca de 20 quilômetros ao sul da
fronteira com a Bielorrússia. Dois dos reatores foram construídos entre 1970 e
1977, enquanto as outras duas unidades foram construídas em 1983, e outros dois
estavam em construção no momento do desastre. A população nas proximidades da
usina era de 135 mil pessoas.
No dia 25 de abril de
1986, os engenheiros responsáveis pelo reator 4 de Chernobyl iniciaram um teste
de rotina, que visava determinar o tempo que as turbinas levariam para girar e
fornecer energia às principais bombas de circulação após a perda de energia
elétrica. Esse teste havia sido realizado um ano antes, mas não havia sido
concluído com êxito. No dia seguinte, estava programada uma série de ações,
incluindo a desativação dos mecanismos de desligamento automático.
No entanto, o reator ficou
instável e ocorreu uma liberação de energia que interagiu com o combustível
quente e a água usada para resfriar a turbina, o que provocou a produção
instantânea de vapor e aumentou a pressão. Isso resultou na destruição da
cobertura do reator, uma estrutura de mil toneladas, o que gerou o rompimento
dos canais de combustível.
Devido à pressão, houve
uma explosão que inundou o núcleo com a água usada no resfriamento de
emergência, seguida por uma segunda explosão segundos depois, causando a morte
de dois trabalhadores. Vários incêndios foram registrados após as explosões e
ocorreu a liberação de material radioativo na atmosfera.
Os técnicos tentaram
controlar o fogo usando 300 toneladas de água na metade intacta do reator. No
entanto, o fogo, que começou durante a noite, só foi controlado após o
meio-dia. Para evitar a liberação de mais material radioativo, foram lançadas
pelo menos cinco mil toneladas de boro, areia, argila e chumbo no núcleo do
reator.
Localização da Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. |
As Implicações do Desastre
A usina liberou materiais
radioativos por um período de pelo menos dez dias, incluindo Iodo-131, gás
xénon e Césio-137, que constituíram 5% do material radioativo total de
Chernobyl, avaliado em 192 toneladas e considerado altamente perigoso.
Devido à direção do vento,
partículas desses materiais foram levadas para a Escandinávia e Europa
Oriental, resultando em intensa exposição à radiação nessas áreas.
As equipes de controle do
acidente e os bombeiros que chegaram ao local foram os mais expostos ao
material radioativo, e seis dos 28 mortos nos primeiros dias eram bombeiros.
Cerca de 20 mil pessoas
participaram dos trabalhos de controle do acidente entre 1986 e 1987, recebendo
diferentes níveis de exposição à radiação. O governo soviético reassentou cerca
de 220 mil pessoas que moravam nas áreas próximas ao local do desastre.
Impacto na Saúde
O desastre nuclear de
Chernobyl teve consequências significativas na saúde das pessoas afetadas. De
1990 a 1991, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) enviou 50
missões compostas por representantes de 25 países para avaliar as áreas
contaminadas na Bielorrússia, Rússia e Ucrânia.
O trabalho de controle
identificou mais de 4.000 casos de câncer de tireoide, além de outros tipos de
câncer agressivos em longo prazo, problemas de circulação e catarata. Além dos
problemas diretos da exposição ao material radioativo, a população traumatizada
pelo acidente também sofreu impactos na saúde mental.
Durante o desastre, as
gestantes foram aconselhadas a abortar para evitar possíveis efeitos
teratogênicos nos fetos. Mais tarde, ficou comprovado que os níveis de radiação
liberados não eram suficientes para causar danos aos bebês em fase gestacional.
Atualmente, aqueles que eram crianças e adolescentes na época do desastre são
considerados grupo de risco para o desenvolvimento de câncer, muitos já tendo
sido diagnosticados com câncer de tireoide e em algumas áreas, como a cidade de
Gomel, na Bielorrússia, a incidência da doença aumentou em até 10.000 vezes.
Efeitos Ambientais
Os efeitos ambientais na
região foram drásticos. Após o desastre, vários países suspenderam a importação
de produtos agrícolas, como batatas e leite, devido aos altos níveis de
radiação. Até hoje, não é seguro consumir alimentos produzidos naquele
território, o que resultou em perda de renda para milhares de pequenos
agricultores que tiveram que abandonar suas fazendas.
A fauna também sofreu com
a radiação, com muitos animais apresentando mutações genéticas, incluindo
lobos, roedores e animais domésticos como gatos e bovinos. Da mesma forma, as
plantas foram afetadas, com veneno presente desde a semente e alterações em sua
aparência.
Estima-se que os riscos de
contaminação continuarão por 20 mil anos.
Após o acidente em 1986,
engenheiros construíram o Sarcófago de Chernobyl, uma estrutura isolada com chumbo
que protegia a turbina 4, onde ocorreu o desastre. A obra envolveu 400
trabalhadores, mas a preocupação com novos vazamentos impôs a construção de uma
nova estrutura iniciada em 2002. A nova estrutura de proteção tem 110 metros de
altura, 257 de largura e custou 768 milhões de euros, financiados por um
consórcio de 43 países doadores. O sarcófago foi inaugurado em 2017 e deve
proteger o reator por mais 100 anos, quando novas obras terão que ser feitas
para garantir a segurança da região.
Chernobyl: uma Atração
Turística
Desde 2011, Chernobyl tem
se tornado uma atração turística popular. Apenas 3000 pessoas com permissão
especial vivem na cidade atualmente, em comparação com as 14000 que habitavam
lá antes do acidente nuclear.
A cidade abandonada de
Prypiat, originalmente construída para abrigar os trabalhadores da usina, é
agora um ponto turístico. Localizada a quatro quilômetros de Chernobyl, é uma
cidade-fantasma onde a natureza e o abandono estão gradualmente tomando conta
das construções. No entanto, ainda há altos níveis de radiação registrados na
região.
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